30 junho 2005

Movimentos sociais?

É uma realidade, gostemos ou não! Mas, como explicar para uma criança?

Cenário: "Pai trabalhador e filho estudante dentro do carro a caminho da escola"
Filho: Pai, já que roubaram o som do carro vamos conversar um pouco?
Pai: Claro filho.
Filho: Pai, o que é inclusão social?
Pai: Bom filho, é que muitas pessoas têm muito e outras nada têm, a inclusão consiste em dar direitos iguais a todos.
Filho: Ah ta, os integrantes do MST são um exemplo de excluídos né?
Pai: Isso filho.
Filho: Pai, o que eu devo ser quando crescer?
Pai: Bom, primeiro escolha uma profissão que você goste, depois estude muito, mas muito mesmo e depois trabalhe muito mais, dia e noite, só assim você será alguém na vida.
(Atrasados para a escola, o pai pára sobre a faixa de pedestres e é multado, além de ser maltratado pelo policial).
Filho: Pai, o que houve?
Pai: Fomos multados filho.
Filho: Mas por que?
Pai: Porque estávamos bloqueando a passagem filho.
(Um pouco adiante o trânsito pára, a marcha do MST está passando).
Filho: Pai, por que eles estão bloqueando nosso caminho?
Pai: É a marcha do MST filho.
Filho: Ah tá, e aqueles policiais estão multando eles né?
Pai: Não filho, estão escoltando eles.
Filho: Ué, mas nós estávamos bloqueando a passagem e fomos multados e maltratados, e eles estão bloqueando tudo e são escoltados?
Pai: (silêncio)
Filho: E o que é aquilo ali?
Pai: É o refeitório deles.
Filho: Ah sei, lá eles gastam aqueles vales-refeição igual ao seu,que a pessoa ganha da empresa na qual trabalha.
Pai: Não filho, o governo paga a alimentação pra eles.
Filho: Ué, e por que não paga pra você também?
Pai: (silêncio)
Filho: E aquela ambulância lá? Ah já sei, é por causa do plano de saúde que eles pagam né, como você, paga pra poder ter assistência médica né?
Pai: Não filho, eles não pagam plano de saúde.
Filho: Ué, não entendi.
Pai: É o governo que está pagando essas ambulâncias que você está vendo.
Filho: E por que você paga plano de saúde então?
Pai: (silêncio)
Filho: Por que a maioria deles está com rádio?
Pai: Porque o governo doou 10.000 radinhos pra eles se comunicarem.
Filho: Pô e a gente sem som no carro, e você fala que precisa trabalhar pra comprar outro, vamos pedir pro governo então.
Pai: Eles não nos dariam filho.
Filho: Ah, já sei. Você reclama que paga 40% de tudo que ganha pro governo, mas com certeza eles pagam muito mais né? Eles têm todas essas regalias.
Pai: Não filho, eles não pagam nada.
Filho: Como assim?
Pai: (pensativo, em silêncio).
Filho: Pai quero parar pra falar com eles.
Pai: Não adianta filho, eles só falam através de assessor de imprensa.
Filho: Que legal, vamos contratar um assessor de imprensa pra nós pai?
Pai: Filho isso é muito caro, eu precisaria trabalhar o triplo do que trabalho pra poder pagar um assessor de imprensa.
Filho: Mas eles nem trabalham e têm?
Pai: Mas é o governo que paga filho.
Filho: Pai, não foram eles que invadiram um prédio público e fizeram a maior bagunça?
Pai: Foram sim filho.
Filho: E o que aconteceu com eles?
Pai: Nada filho.
Filho: E por que eu fiquei de castigo e levei uma baita bronca porque quebrei a lâmpada do poste jogando bola.
Pai: Porque você tem que cuidar e respeitar o patrimônio público filho.
Filho: E eles não precisam?
Pai: (silêncio)
Filho: Pai vamos com eles?
Pai: Claro que não filho, você precisa estudar e eu preciso trabalhar.
Filho: O QUE? PODE PARAR, EU VOU COM ELES, APRENDI QUE OS EXCLUÍDOS SOMOS NÓS, QUERO MINHA INCLUSÃO JÁ (desce do carro e se junta à passeata).
Pai: (silêncio ...).

29 junho 2005

Complô contra a inteligência

André Petry, na Veja com data de hoje, só pra mostrar mais uma vez que a expressão "esquerda burra" cai como uma luva em nossos políticos petistas...
"Deve mesmo haver um complô das elites contra o governo Lula. Os petistas mais estrelados têm dito que os setores conservadores, a direita, o setor financeiro, os tucanos estão unidos para derrubar o governo, desestabilizar a primeira experiência de esquerda da história brasileira. Agora mesmo, 43 representantes de entidades do movimento social assinaram um documento, chamado de "Carta ao Povo Brasileiro", em que também denunciam a urdidura da conspiração.
Deve mesmo ser verdade.
Afinal, o setor financeiro está irritadíssimo. A taxa de juros reais do país é apenas a mais alta do mundo, tendo superado – em mais do que o dobro – a da Turquia. Os banqueiros detestam juros altos. Querem o golpe.
No ano passado, o Itaú teve lucro de 3,8 bilhões de reais, apenas o maior lucro líquido de um banco desde que dom João VI aportou por aqui e fundou o Banco do Brasil, há dois séculos. A família Setúbal, dona do Itaú e politicamente próxima dos tucanos, está desolada.
Os milionários brasileiros, assim definidos os que têm pelo menos 1 milhão de dólares para investir, também não agüentam mais. Em 2003, quando Lula assumiu, eles eram 92.000 em todo o país. Agora, são 98.000. São apenas 6.000 novos brasileiros milionários! Todos golpistas.
A elite empresarial, então, anda arrasada. As 500 maiores empresas do país, segundo o levantamento anual da revista Exame, aumentaram em 7% seu lucro líquido no ano passado. Foi apenas o maior lucro líquido da década.
E a direita? Tem todos os motivos para odiar o governo. O PP, herdeiro da antiga Arena, a direita mais assumida do país, está prestes a conseguir o primeiro ministério. Só um ministério! Até agora, tem apenas diretores em estatais pobres, como Petrobras, Furnas, Caixa Econômica.
Seu representante maior, o deputado Delfim Netto, czar da economia da ditadura, recentemente jantou com o presidente Lula na casa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em Brasília. Estava presente a cúpula da equipe econômica do PT – e Delfim Netto. Assim tão isolado, o deputado do PP deve estar sedento por outro governo.
É, deve haver mesmo um complô das elites, dos conservadores, da direita, dos banqueiros, dos tucanos contra o governo do PT. Eles nunca foram tão maltratados. Os tucanos, já que não falamos deles, também vivem em clima de conspiração. Inventaram de vir a público dizer que "Lula não é Collor", essa bandeira golpista. Na última eleição, ganharam apenas a prefeitura de São Paulo, essa mixaria. E ganharam do PT, essa legenda nanica. Os tucanos não agüentam mais o jogo eleitoral sujo e de cartas marcadas.
Quem não se contém de felicidade, quem está vibrando com a primeira experiência de esquerda da história brasileira são os moradores da favela Coliseu, em São Paulo. Afinal, eles agora vivem atrás da recém-inaugurada loja da Daslu."

28 junho 2005

Leitura, internet, rádio, televisão

Do serviço de notícias da BBC Londres:
"A população do Brasil lê em média 5,2 horas por semana, o que coloca o país em 27º num ranking de 30 países que é liderado pela Índia. Já em horas dedicadas a ouvir rádio, os brasileiros saltam para a outra ponta da tabela, ficando em segundo lugar – com uma média de 17,2 horas semanais sintonizados. Os argentinos lideram esse ranking, com uma média de 20,8 horas.

Essas informações estão no NOP World Culture Score, uma espécie de ranking de atividades culturais preparado a partir de entrevistas feitas pela NOP World com 30 mil pessoas em 30 países entre dezembro de 2004 e fevereiro de 2005.

No tocante à internet, a pesquisa coloca os internautas brasileiros na nona colocação. Eles gastam uma média semanal de 10,5 horas online em atividades desvinculadas de assuntos de trabalho. Os cinco primeiros deste ranking são, na ordem, Taiwan, Tailândia, Espanha, Hungria e China. Pela metodologia desta pesquisa, os entrevistados que dizem não passar tempo algum utilizando a internet fora do trabalho foram excluídos para o cálculo da média.

O Brasil ficou em oitavo lugar entre os países de maior média semanal de audiência televisiva. Os brasileiros, diz a NOP World, passam 18,4 horas semanais diante da telinha. À frente do país, ficaram Tailândia (22,4 horas), Filipinas (21 horas), Egito (20,9 horas), Turquia (20,2 horas), Indonésia (19,7 horas), Estados Unidos (19 horas) e Taiwan (18,9 horas)."

27 junho 2005

A Queda: os últimos dias de Hitler

Fui assistir, tardiamente, ao filme A Queda. Confesso que saí do cinema mais uma vez desiludido com o nível de respeito que ultimamente a gente tem tido com o próprio cérebro! Eu li em diversos meios que o filme tinha sido criticado por apresentar um Hitler com sentimentos, por tentar humanizar a personagem. Imaginei então, erroneamente, que o filme mostraria um Hitler totalmente diferente do que eu pensava.
Ora, o filme mostra um Hitler dentro da mais perfeita "normalidade": uma pessoa que gosta de crianças, tem sua namorada, fica nervoso, tem medo, raiva, enfim, tudo que um ser humano tem. E então me dei conta: as pessoas querem retratar um Hitler animalesco, quase um monstro, cachorro, extraterrestre, sei lá, algo que seja tudo, menos humano... Ora, gente, querer retratar tal personagem sem sentimentos é desconsiderar que ele comandou todas as barbaridades que comandou justamente por ter sentimentos!!! Foi justamente por ter vergonha, humilhação, tristeza, raiva e vingança que ele promoveu tais barbarismos! A Alemanha da Primeira Guerra é humilhada pelos países vencedores, no que Churchill mesmo afirma: "Os crimes dos vencidos encontram seus antecedentes - embora não seu perdão, é claro - na insensatez dos vencedores. Sem essa insensatez, não teria havido tentação nem oportunidade para o crime" *.
Hitler, ainda, acreditava que os judeus haviam traído o povo alemão na Primeira Guerra, contribuindo assim para sua derrota. É de uma junção de sentimentos, fortes sentimentos, com uma interpretação um tanto distorcida de alguns fatos (vale lembrar que à época Spengler escrevia "A decadência do Ocidente", livro que inspira e no qual Hitler se apóia, ou seja, até alguns autores contribuíam para esse sentimento) que Hitler vai promover o maior massacre do qual se tem notícia. Contudo, se ele não tivesse sentimentos, como muitos advogam, certamente não teria agido desta maneira.
O que ocorre é que chegamos a um nível tão baixo de desenvolvimento intelectual, de um comodismo mental assombroso, que temos a impressão de que, se o cinema nos mostrar um Hitler humano e com sentimentos, logo logo veremos hordas de pessoas a admirá-lo e venerá-lo, quiçá até mesmo seguir sua ideologia.
Partimos do triste princípio de que os fatos têm de nos ser passados mastigados, quase digeridos, pois senão nosso microcéfalo não terá capacidade de perceber e julgar adequadamente. Aliás, não admitimos isso abertamente; mas dizemos: "Eu não, que eu sei julgar. O problema são os outros, que podem entender errado". Sei... É o nível a que chegamos...
______________
*CHURCHILL, Winston. Memórias da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995, p. 13.

24 junho 2005

Revise-se!

Acho que esta é a palavra: revisão! O mundo hoje está mesmo de cabeça para baixo. As pessoas fazem revisão no automóvel (este artigo hoje indispensável na vida de todos aqueles que não sabem ainda como dá pra viver perfeitamente bem sem ele - e antes que argumentem, não esqueçam que nos países mais civilizados do mundo ele é um acessório, não um complemento do próprio corpo, como no Brasil); se esquecem, todavia, de fazer uma revisão de si mesmo!
Quantas vezes paramos para nos revisar? Para pensar em nossas vidas, no rumo que estamos dando a ela? Por que sabemos que o automóvel provavelmente quebrará, se não cuidarmos e não fizermos sua revisão, mas desleixamos nossa própria vida, como se ela não fosse também passível de "quebrar"?
Por isso, sugiro algumas questões, ao menos iniciais, para que você possa começar a "se revisar":
- Pense em 2 bons livros que você tenha lido esse ano por iniciativa própria (não por que precisava pro colégio, faculdade, ou porque o chefe mandou);
- Na ultima semana o Brasil andou passando por sérias confusões políticas. O que anda acontecendo? Você está se informando bem?
- Quais são os melhores articulistas que falam do Brasil em sua opinião?
- Quais são os bons filmes que fizeram você parar para pensar? Filmes sérios, nada de blockbusters e superproduções à la Titanic.
- O que você sabe fazer bem? Isso que você faz realmente é importante pra alguém?
É pouco, é uma revisão daquelas de "oficina da esquina", nada de uma autorizada Mercedes-Benz! Mas já dá pra ter uma noção de como a gente anda cuidando da própria vida, do próprio cérebro...

23 junho 2005

Qual ética, presidente?

CLÓVIS ROSSI - Folha de S. Paulo de hoje
Bravata ontem, bravata hoje

SÃO PAULO - Em que mundo vive o presidente da República que o torna capaz de autoproclamar-se o campeão brasileiro (ou talvez mundial) da ética?É ético fazer carreira política à base de bravatas, como já confessou uma vez e repetiu anteontem no discurso em que se concedeu o título de o mais ético dos brasileiros? É ético eleger-se com base em mentiras (ou bravatas, tanto faz) para só depois de eleito dizer que eram bravatas (ou mentiras, tanto faz)? Não é o mesmo que confessar: "Ah, bobões, enganei vocês todos?". É essa a ética de que se gaba o presidente?É ético expulsar companheiros e companheiras de partido cujo único crime foi o de acreditarem que Luiz Inácio Lula da Silva dizia a verdade, e não bravatas? É ético expulsar pessoas cujo único crime, como ironiza a senadora Heloísa Helena, agora no PSOL, foi o de cometer "fidelidade partidária"?É ético andar em "más companhias", para usar a expressão de um querido amigo e velho companheiro do presidente, o ministro Olívio Dutra (Cidades)? Más companhias, aliás, que trabalharam durante um tempo no próprio Palácio do Planalto, como é o caso de Waldomiro Diniz, o que significa que um comportamento nada ético habitou a mesma casa do homem mais ético do país sem que ele percebesse. Não parece exatamente um reforço ao título de campeão do combate à imoralidade que Lula se atribuiu.É ético falar em criar quantas CPIs forem necessárias depois de o partido de Lula ter feito o diabo para impedir a CPI dos Correios, só se curvando à ela depois que surgiu um novo escândalo, o do "mensalão"?É ético descartar como "denúncias vazias" acusações que não foram apuradas ainda, ao mesmo tempo em que se defende a apuração de tudo, doa a quem doer?É ético afastar um ministro (José Dirceu) se, afinal, as denúncias contra ele são "vazias"?

19 junho 2005

O gaúcho, esse culto! Será verdade?

Como havia escrito, estou em São Paulo. Eu não pretendia escrever durante minha estada aqui, mas um fato me chamou a atenção: lendo a Vejinha São Paulo (edição que acompanha a Veja principal e que, infelizmente, não existe em Porto Alegre), constatei um fato que, ainda que já desconfiasse, me surpreendeu:
Estão em cartaz em São Paulo, nesta semana, 49 peças de teatro!!! E entre essas 49 peças, a grande maioria de excelente qualidade, e não peças de fundo de quintal... Mais ainda, peças que ficam em cartaz por meses, e não somente durante um final de semana, como ocorre SEMPRE em nossa cidade... Ah, em São Paulo existe teatro durante a semana! (ainda não entendi por que o gaúcho só pode assistir teatro de sexta a domingo...) Se procurarmos comparar o número de apresentações que ocorrem em um mês na cidade de São Paulo e em Porto Alegre, o número é desanimador. Fazendo uma conta simples, São Paulo tem em torno de sessenta vezes mais apresentações de teatro do que Porto Alegre.
A esta altura, para meu deleite, muitos já estão argumentando: ok, mas São Paulo é "x" vezes maior que Porto Alegre, tem "x" vezes mais população! Ledo e ivo engano: usando dados do IBGE (Censo de 2000): São Paulo tem 10.434.252 habitantes; Porto Alegre, 1.360.590. Já fizeram as contas? São Paulo tem 7,66 vezes mais gente do que nossa cidade; e 60 vezes mais apresentações!!! E agora, onde ficam as explicações? Se fizermos as contas utilizando dados referentes a renda, a disparidade continua alarmante...
Isso tudo me levou novamente a considerar que vivemos em uma província, e não em uma cidade! É uma pena que um povo dito tão culto, como o gaúcho, sofra na verdade de uma falta crônica de incentivo à cultura... As velhas explicações, de que São Paulo é muito maior e muito mais rica, não se sustentam, como mostrei acima... A verdade é que, comparados a São Paulo, somos pobres, sim.... pobres de cultura!

17 junho 2005

Herança dos Czares

Estou indo pra São Paulo ver a exposição "A herança dos czares", com tesouros e peças incomensuráveis sobre a dinastia Romanov, que governou a Rússia de 1613 a 1917.
Por isso, ficarei alguns dias sem publicar novos textos.
Na volta, com certeza, teremos muito a conversar!!
Abraços e Beijos!

12 junho 2005

A crise, por Gabeira

Trecho de um belo e poético texto, publicado por Fernando Gabeira, na Folha de S. Paulo de 04 de junho.
"Essa certeza de que tudo se vence com dinheiro, essa confiança cega em neutralizar a televisão, ampliar a clientela social e simplesmente ignorar os milhares de consciências que assistem a tudo, é um dado novo. Os amigos não estão perdidos; simplesmente passaram a acreditar que o bandido vence no final. Enfrentamos cadeia, tortura e exílio e, de certa forma, sobrevivemos moralmente inteiros. A experiência do poder quebrou mais nossa vontade do que todos os paus-de-arara; os holofotes e o cordão de puxa-sacos nos confundiram mais do que choques elétricos. Amigos que enfrentaram horas de tortura para salvar os outros hoje se dedicam a produzir notinhas, uns contra os outros.Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Há dissoluções mais bonitas, passagens mais perfumadas. Esse episódio, mascarado de ascensão de um trabalhador ao governo, é uma crueldade histórica. Levarei muitos anos para justificar a mim mesmo como foi possível acreditar nisso, já no fim do século 20, quando experiência e prática nos incitavam a duvidar. Ignorantes da tragédia histórica, fomos condenados à farsa."

08 junho 2005

Aonde queremos chegar?

Esta semana foi sintomática. Comecei este blog falando sobre edudação, leituras, ensino. E não é que meus caros colegas me surpreendem mais uma vez? Em plena faculdade de História, um grupo de alunos reclama do professor: "Ah, professora, tem que ler este livro INTEIRO para a prova?" (ressalte-se que o livro INTEIRO não tinha mais que 90 páginas...). É ou não é pra envergonhar?
Em que mundo estão os estudantes brasileiros? O que fazem nas universidades? (porque aprender, com certeza, não é seu objetivo).
Outro aluno, no mesmo assunto, manifestou-se: "Bah, mas no vestibular não tem tantas questões sobre a Segunda Guerra quanto vai ter nessa prova que a senhora vai aplicar..." Pelo amor de Deus!!! Por acaso o cidadão pretende, em um curso de graduação, realizar uma prova de nível inferior à do vestibular??? Socorro!!!
Saí da PUC essa semana com a certeza de que esse país não pode mesmo ir pra frente! Se alunos de nível superior pensam desta maneira, nosso destino é o fracasso, com absoluta certeza.
Quando eu disse a outra colega que não só teríamos que ler o tal livro INTEIRO, mas que o correto seria lermos no mínimo uns sete livros para esta tal prova, ela me responde: "Ah, até parece que tu é tão preocupado e dedicado aos estudos". Olha, não devo satisfação a ninguém, mas a quantidade de livros que leio por ano atesta que sou, sim, preocupado e dedicado.
Nossos estudantes são useiros e vezeiros da máxima segundo a qual se estuda pra tirar o mínimo necessário na prova. Estudar pra aprender?? O que é isso?
Não surpreende, em um país em que o presidente - que, frise-se, teve todo o tempo do mundo para estudar, pois que nunca trabalhou, mas ganhou salário a vida inteira de seu partido - orgulha-se de ser ignorante e iletrado... E, pior ainda, muitos o aplaudem; não, no fundo, aplaudem a burrice, a "malandragem" (burra, mas tão burra) e o jeitinho brasileiro...
Não descobri ainda por que a tal malandragem ainda não nos levou a um melhor patamar, e insiste em nos deixar nesse terceiro mundo miserável, pobre e subdesenvolvido... Será mera coincidência?

IncomPeTência?

Texto de Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo de hoje:
Inépcia e informalidade
São para lá de insuficientes as respostas dadas pelo governo até agora para as acusações feitas por Roberto Jefferson sobre a existência de um "mensalão" pago pelo PT a deputados no Congresso.O Palácio do Planalto quer nos fazer acreditar que a administração Lula vive num misto de inépcia e informalidade, porém honesta. Nada menos do que seis ministros de Estado foram, segundo Jefferson, alertados da ação criminosa. O presidente da República teria sido informado, como o próprio admite. Um governador de Estado também veio a público para dizer que fez a mesma observação sobre o "mensalão".E qual foi a resposta do governo? Pediu a um de seus líderes no Congresso que verificasse o caso. Concluiu que nada havia a ser apurado. A Câmara (onde se daria a corrupção) encerrou formalmente o caso em 24 horas após a suspeita ter sido negada no ano anterior.É mais ou menos assim: o Planalto perguntou ao suposto criminoso se ele cometeu um crime e, como ele disse que não, ficou satisfeito.Ninguém tem condições ainda de tirar conclusões sobre a honradez do presidente da República. Nem é esse o caso. Mas o grau de informalidade com que Lula administra o país é temerário. Não cabe a ele receber um presidente nacional de um partido, Roberto Jefferson, ouvir absurdos e tomá-los como comentários banais. É dever do principal mandatário do país atuar por ofício, e não mandar fazer. Onde está o documento provando que Lula exigiu explicações detalhadas? Não existe.Essa novela do "mensalão" ainda nem começou direito. O Palácio do Planalto parece não ter percebido. Como diria o agora providencialmente emudecido secretário-geral do PT, Silvio Pereira, estão querendo tapar o sol com o pandeiro (sic).

É, PT.... quem te viu e quem te vê

Folha de S. Paulo, hoje:
Os bisonhos
A oposição ao governo Lula bem que poderia tirar férias. Afinal, são os próprios governistas que se enterram com argumentos bisonhos e patéticos.Caso, por exemplo, de José Genoino, presidente nacional do PT, que, na manhã de anteontem, lançou nota oficial para dizer que "o relacionamento do PT com todos os partidos da base do governo, inclusive o PTB, se assenta em pressupostos políticos e programáticos".Pressupostos programáticos? Pelo amor de Deus, nem a velhinha de Taubaté acredita, Genoino. A menos que o "pressuposto programático" seja armar esquemas nos Correios.Aí, vem o ministro Aldo Rebelo e diz que não houve acusação contra o governo, mas contra um partido (no caso o PT). Como é que pode alguém com um mínimo de responsabilidade aparecer na televisão para dizer uma batatada desse tamanho?Primeiro, não dá, nesse caso, para distinguir governo e partido. Lula é do PT, a maioria dos ministros é do PT, logo, qualquer denúncia que envolva o partido envolve automaticamente o governo.Segundo, só Aldo Rebelo parece acreditar que, se houve ou se está ainda havendo um "mensalão", o dinheiro saiu do PT (ou dos bolsos de Delúbio Soares?).Nem ele nem o partido têm recursos suficientes para bancar a mesada para uns 200 deputados, que é o número de parlamentares beneficiados, em tese, com o que Aldo chama de "hipotético" pagamento.Esse dinheiro, se houve ou há, saiu de estatais ou de mamatas envolvendo empresas e funcionários do poder público. Qualquer bebê de colo, no Brasil, sabe como funcionam essas coisas. Só não sabe o ministro da Coordenação Política.Com esse tipo de defensores, definitivamente o governo nem precisa de oposição. Enterra-se sozinho.

07 junho 2005

Mais do mesmo...

Mais informação, mais lama, mais opiniões. Aqui, Clóvis Rossi, da Folha, hoje.

Cheques, ônus e bônus
SÃO PAULO - O ponto-chave nessa história do "mensalão" denunciado pelo deputado Roberto Jefferson a Renata Lo Prete, desta Folha, é o seguinte: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do esquema? E, se sabia, o que fez?Se sabia e nada fez, cometeu crime de responsabilidade, o que pode dar até em impeachment. Que o presidente sabia, o próprio Planalto admite. O problema é que há duas versões para a segunda pergunta. Jefferson diz que Lula chorou e o esquema cessou. Mas não houve apuração.Já o Palácio do Planalto diz que o presidente passou a bola para Aldo Rebelo, que a repassou para Arlindo Chinaglia, o líder na Câmara, que chegou à conclusão de que era denúncia velha, surgida em setembro, pelo deputado Miro Teixeira, que teria se desmentido depois.Parece claro que a cúpula do governo/PT foi, para ser bem brando, descuidada na apuração de uma denúncia da maior gravidade. Mas não há elementos para afirmar que Lula nada fez. De todo modo, se ele acreditasse na frase que lhe atribuem -segundo a qual daria um cheque em branco para Jefferson e, não obstante, dormiria tranqüilo-, teria de ficar em cima da investigação que seus subordinados dizem ter feito.Agora, a Folha ouviu que, cheque a Jefferson, "nem preenchido".Tarde demais. O estrago já está feito. Tão feito que o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) teve de esquecer pronunciamento já gravado sobre combate à corrupção, porque falava dos Correios e do IRB, mas não da entrevista de Jefferson.Ou seja, dia sim, outro também, há alguma denúncia do gênero.Nesse cenário, barrar investigações, quaisquer que sejam, equivale à confissão de culpa. Aí, de duas uma: ou o governo sabe que uma CPI trará mais fatos comprometedores à luz do dia ou é tonto de preferir ficar com o ônus de ser visto como culpado sem o eventual bônus de a investigação dissipar ao menos algumas dúvidas que flutuam sobre a pátria.

06 junho 2005

PT na lama

Mais desilusão, mais denúncias. O PT se afunda num mar de lama só visto com Collor... É a arrogância dos até então detentores da ética e da moral, que achavam que certamente os fins justificam os meios, e que vale tudo em prol de um sonho, de uma utopia (ainda que seja a utopia do socialismo, fracassada em todos os lugares onde foi testada na prática)...
Texto de Fernando Rodrigues, na Folha de S. Paulo de hoje.
Lula e o "mensalão"
BRASÍLIA - É gravíssimo o conteúdo da entrevista concedida por Roberto Jefferson a Renata Lo Prete, na Folha de hoje. O deputado do PTB relata ter informado ao presidente da República sobre o pagamento de mesadas a congressistas do PP e PL. O dinheiro saía pelas mãos do PT.O "mensalão", como Jefferson diz, era de R$ 30 mil. Ministros sabiam. José Dirceu, Antonio Palocci, Ciro Gomes e Walfrido Mares Guia. O que fez Lula? Nas palavras de Jefferson, o presidente da República "chorou" e "meteu o pé no breque".Meter o "pé no breque" é pouco. Eis aí a gravidade. Cabe ao presidente da República mandar apurar e punir com rigor os envolvidos.Fato consumado, há duas saídas para Lula diante da entrevista do seu "Pedro Collor" particular.A primeira, altamente improvável por equivaler a um suicídio político, é o Palácio do Planalto confirmar toda a história. Seria uma autoconfissão de conivência do presidente com um crime -não foi instaurada investigação nem ninguém foi punido. Destruiria o governo.O mais provável é Lula optar pela única solução possível nessas horas. Alegará desconhecimento. Dirá que Roberto Jefferson conta uma mentira. Logo Jefferson, a quem o presidente já declarou que daria um cheque assinado em branco.A hipótese de Lula negar a história de Jefferson fará colar no presidente uma pecha desagradável: o mandatário maior do país vive no mundo da Lua, confia em quem não deve, manda pouco e desconhece estripulias pesadas em seu governo.A entrevista de Jefferson é rica em detalhes. Ele fala em público o que há muito Brasília conhecia em privado: as mesadas para deputados.Se há um caso em que corrupção deve ser assunto investigado pelo Congresso, esse é um deles. Estão citados o presidente da República, ministros e congressistas. Para abafar mais essa, nem os milhões distribuídos por Palocci bastarão.

História da ruína petista-lulista

Publicado na Folha de São Paulo de hoje, assinado por Vinicius Torres Freire.


SÃO PAULO - A natureza de Lula e seu PT manifestou-se em sua crua inteireza apenas após meses de governo. Apesar do despreparo intelectual e programático dos adeptos de Lula, havia pouca gente disposta a lhes negar mesmo o benefício da dúvida.
Mas no poder os defeitos de base do PT desabrocharam. Em meses, esnobavam-se os últimos movimentos sociais da "base petista", projeto iniciado em 1995, assumido em 2000 e escancarado em 2002. Ficou o "projeto de poder" sem idéias. O aparelhismo da pior esquerda. O arrivismo mais vulgar da alta burocracia partidária. Agora, não ficou nem mesmo o Roberto Jefferson.
Apesar de o PT ter renegado com despudor 20 anos de tolice econômica, o defeito de origem permaneceu. O governo Lula reagiu à ruína de FHC com os então corretos procedimentos de manual. Mas a ausência de quadros e idéias econômicos no PT o submeteram sem mais à onda conservadora mundial e ao poder da finança e da direita da tecnocracia econômica nacionais. O Tesouro Nacional é drenado pelo monetarismo idiota bancado por Lula.
O petismo-lulismo desconectou-se do movimento social. Tornou-se movimento arrivista. Levou ao poder federal os seus quadros volantes, gente que participou do governo de várias prefeituras petistas, algumas muito bem administradas, outras a origem de escândalos sem explicação.
Vários assessores próximos de ministros e da cúpula federal muitas vezes aparecem na foto de licitações suspeitas, em consultorias de negócios federais esdrúxulos, em assassinatos: concorrências do lixo, GTech, Santo André, Celso Daniel.
O selvagem loteamento do governo, em parte para dar cargos a amigos medíocres de Lula e a tendências petistas, foi contraproducente mesmo do ponto de vista do pragmatismo político. O PT quebrou acordos tanto com a escória aliada como com gente mais séria no Congresso. Lançou o país em crise política.
Seu plano de governo é uma política de esmolas e marquetagem originada no quasifascismo paulista. Não há políticas estruturais de governo ou desenvolvimento. E, com dois anos e meio de governo, temos isso: lama.

Por um país mais trabalhador e cada vez mais burro

Tenho me surpreendido com algo que escuto com relativa frequencia: a idéia de que estudar e não fazer nada são sinônimos! Já perdi a conta das vezes em que amigos meus (muitos deles que não estudam, ou estudam à meia-boca), que trabalham, me disseram: "Vai lá tu e faz a mão pra gente, já que tu não faz nada mesmo"!
Um dia eu disse: "Cara, se estudar é não fazer nada, então sou o maior vagabundo desse país, porque tenho aula todos os dias, de manhã e de tarde, e ainda estudo línguas à noite e faço cursos nos sábados pela manhã". Como sê vê, um belo vagabundo...
Sinceramente, não sei de onde surgiu essa idéia bestial. Ou é fruto de mentes tão burras e inaptas ao conhecimento - e que portanto o consideram inútil, dado que inacessível a elas - ou de mentes bitoladas que acreditam que é possível o desenvolvimento pessoal e intelectual sem estudo.
Tá certo que muitas pessoas precisam trabalhar, pois em um país pobre como o nosso não dá pra viver sem batalhar por algum trocado... Mas e aquelas que não precisam disso? Que têm familias que podem arcar com seus estudos? Por que jogam fora esse momento vital de desenvolvimento intelectual e pessoal?
Waldez Ludwig, que presta acessoria a diversas grandes empresas, trata sempre da educação dos empregados. E diz que ocorre com grande freqüência a seguinte situação: o empregador pergunta ao postulante à vaga: "Quantas horas você estuda por semana?". Este responde: "Não, eu já saí da faculdade, hoje eu trabalho, não tenho tempo pra estudar". A recomendação de Waldez é clara: jamais dê emprego a esse tipo de pessoa. Porque alguém que acredita que estudar é algo que se limita a só um determinado momento da vida, é alguém que jamais vai crescer e "transitar", como ele mesmo gosta de falar.
O Brasil possui uma lista infindável de explicações para seu atraso e subdesenvolvimento, e com certeza este desprezo pelo estudo é mais uma delas.

04 junho 2005

Tocqueville e a cultura no Brasil

Instigado por recente discussão (veja em http://masmorradoandroide.blogspot.com/), parei para refletir sobre a cultura em nosso país. Tocqueville diz que a sociedade igualitária levaria a uma sociedade da mediocridade. A idéia é que sem a aristocracia, não teria como a sociedade formar pessoas de grande intelecto, uma vez que ninguém mais poderia se dedicar exclusivamente a sua formação intelectual.
Este assunto passou pra a discussão sobre leitura nos dias de hoje. Fui pesquisar. O brasileiro, pasmem, lê 1,8 livros por ano (!!) informam a Unesco e a Câmara Brasileira do Livro (225 milhões de exemplares foram vendidos no País em 2003). Entre os argumentos principais está o preço do livro, considerado alto em comparação ao salário mínimo. Porém, fica a pergunta: e, por acaso, naquelas fatias da sociedade de maior poder aquisitivo (onde, portanto, o valor do livro é o último aspecto a ser levado em conta), o consumo de livros é expressivo? Atinge níveis de países europeus? Afinal, por que o brasileiro não lê?
Sou uma imensa exceção (nos cinco meses deste ano, já li 18 livros), e por isso tenho dificuldade em entender esse desleixo cultural típico de nosso país. Mas gostaria que me ajudassem com algumas respostas, ou mais dúvidas ainda...
“Um país é feito de homens e livros”, sentenciava Monteiro Lobato. Se é assim, onde vamos parar?

Vôo da alegria

Nada como o futebol para aliviar as tensões. Uma caravana de senadores, encabeçada pelo presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), embarca amanhã para Porto Alegre a bordo do jatinho de Valmir Amaral (PP-DF) para assistir ao jogo da seleção a convite da CBF.

03 junho 2005

Portugal, França e Árabes

Vou colocar aqui uma discussão recente entre amigos, a respeito da influência e grandeza de Portugal. Acho que ilustra bem o desconhecimento que nós ocidentais temos acerca do mundo árabe....

Mensagem inicial - Por Marcelo M.O.

"Lembro a todos que o Império Português é responsável por feitos extremamente importantes para toda a humanidade. A expansão das fronteiras no mundo no século XVI e a integração sócio-econômica dos continentes foram contribuições sem precedentes e ainda não desbancadas na história. Visto as sequentes expansões territoriais do homem não surtiram nenhum efeito nas relações de comércio globais, de nada serviu a ida dos norte-americanos à Lua nem as demais infrutíferas e ridículas expedições ao cosmos.

Nossa (RÁ !) supremacia naval do planeta na época foi muito mais significante que o poderio bélico atrapalhadamente exercido hoje pelos EUA. O domínio tecnologias de posicionamento global e a perícia cartográfica da temida Armada Portuguesa, foram mais revolucionários e determinantes que o atual GPS e outros sistemas da patética NASA.

E, finalmente, o poder desta "medrosa" Alteza Real, o Rei, Chefe da Casa Real Portuguesa, manteve um Império que abrangia quase todo mundo conhecido na época, incluindo parte da Europa, e as principais rotas de comércio por alguns séculos, gerando uma riqueza que existe até hoje."

Resposta - Alexandre

"Aacho que o Marcelo se precipitou.... Só pra começar, poderíamos contrapor o argumento dele, afirmando que as grandes navegações portuguesas não teriam talvez sido tão grandes sem o auxílio dos instrumentos inventados não por eles, mas sim pelos muçulmanos..... Ou então dizer que afirmar que os portugueses dominaram quase todo o "mundo conhecido" de então é no mínimo esquecer que este mesmo mundo foi "dividido" entre portugueses e espanhóis, através do famoso Tratado de Tordesilhas, de 1494 - o que leva à conclusão de que no máximo dominaram "metade do mundo conhecido", o que já é uma afirmação bastante exagerada... Indo mais longe, também posso dizer que a tal riqueza que o nobre Oliveira afirma existir até hoje em Portugal talvez tenha sido fruto não tanto deste comércio mundial tão propalado, mas talvez daquilo que veio a ser conhecido por metalismo (ou bulionismo) - crença, à época, na qual se afirmava que a riqueza do país era medida pela quantidade de metais preciosos que este possuísse, o que levou a que os portugueses "saqueassem" os metais preciosos da América, visando um enriquecimento; ou seja, o dinheiro "arrecadado" de forma não tão nobre na América é que talvez tenha sido o grande impulsionador da riqueza de Portugal....

Estes são meus pequenos apontamentos acerca da História, ainda que eu deixe claro que não nego a importância de Portugal na história mundial!"
Réplica de Marcelo
"Mesmo assumindo a hipótese que o desenvolvimento das citadas tecnologias de posicionamento global no século XV e XVI tenha sido mérito dos mulçumanos, ressalto que a aplicação produtiva e eficiente das mesmas foi na mão dos entrépidos exploradores portugueses. Enquanto os mouros guiavam camelos no Saara, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral faziam a História.

Também lembro, jovem acadêmico, o motivo que levou o Rei de Castella, Leon y Aragón a arriscar e investir no financiamento da missão do genovês Colombo foi a busca já desesperada de uma nova rota de comércio com o Oriente, dada a pujante supremacia lusitana. Naquela época o mundo conhecido se resumia à Europa, África e Ásia, e estes continentes e mares adjacentes foram dominados pela Marinha Real Portuguesa que controlava e protegia as telecomunicações e logística das linhas comerciais marítimas, envolvendo bases estratégicas desde a costa africana até o longínquo Japão. A Espanha obteve a "outra metade" do mundo apenas após a chegada de Colombo às supostas Índias em um golpe de sorte, pois realmente não sabiam onde estavam. Mesmo assim, para evitar confronto com a potência do Império de Portugal, Beiras e os Algarves, covardemente cederam parte do território descoberto no citado Tratado de Tordesilhas.

Prosseguindo, algumas características do fenômeno econômico do Metalismo, onde visava-se entesourar a maior quantidade de ouro e prata possível como reserva de divisas, persistiram final do século XX. Todos os sistemas financeiros e de fidúcia que surgiram na Europa durante Idade Moderna utilizavam o padrão-ouro, que só foi rompido na década de 70, no Tratado de Brenton Woods. Assim, os Conselheiros Reais portugueses, economistas da época não estavam equivocados em extrair e estocar os tais metais encontrados nos territórios do Império. Não houve saqueamento algum, e sim uma transferência de riquezas. E para não deixar dúvida nem talvez, este era o modelo econômico da época onde se destacaram a competência e a força da Casa Real Portuguesa, da qual seus súditos colhem frutos até hoje.

Já que pediram: outros reinos e impérios que sucederam o português foram efêmeros ou tiveram derrocadas vergonhosas que sequer podem ser comparados à saga e herança portuguesa. Talvez o Império Britânico tenha valor, mas deve muito ao aprendizado e suporte de Portugal. A Alemanha/Prússia, reconhecidamente povos bárbaros - no mal sentido, porcamente dominaram a Europa (nunca tocaram na Grã-Bretanha) por 6 anos e foram atropelados no final da II Guerra. Os italianos, como decendentes de cultura Roma, são desastre, com severos problemas de administração, sendo invadidos até por Pracinhas brasileiros. Os franceses quando liderados por Napoleon Bonaparte tiveram alguns êxitos mas sem resultados práticos, pois nada contribuiram a economia mundial. Após isso, mal conseguiram garantir suas fronteiras assintido um desfile nazista em Paris e dependendo dos patéticos norte-americanos para sua libertação.

Assim, escrevendo no idioma disseminado pela cultura portuguesa, peço a todos que saúdem a tradição lusitana em memória dos seus grandes feitos à civilização."
Tréplica de Alexandre
"1. Os muçulmanos não estavam só guiando camelos enquanto os portugueses “faziam história”; esta imagem deve-se à ignorância ocidental acerca do mundo muçulmano, INFINITAMENTE mais desenvolvido que o mundo cristão até o século XVI...

2. Se a Espanha descobriu as suas rotas por “sorte”, também foi sorte dos portugueses ter aparecido um italiano para descobrir a América pra eles...

3. Os espanhóis não cederam “covardemente” parte do território americano aos portugueses. Favor estudar a desonestidade portuguesa em razão do Tratado de Madrid, de 1750.

4. “Transferência de riquezas” é algo tão falso quanto a invasão americana ao Iraque sob o pretexto de levar democracia ao Oriente Médio. Foi saque mesmo, como é saque agora.

5. Outros reinos ou impérios foram, sim, efêmeros. Mas também o português o foi! Ou ainda hoje Portugal é uma potência? As navegações começam no final do séc. XV, e, do séc. XVIII em diante, o que se vê é supremacia inglesa, seguida pela francesa, seguida pela prussiana, austríaca... Portugal não foi exceção!

6. Louvo o idioma de Camões e Fernando Pessoa. Mas o mundo de hoje deve mais à influência francesa (código civil napoleônico, hábitos, costumes), por exemplo, do que à portuguesa... Ao menos são maiores os vestígios claramente percebidos nos dias de hoje...

7. Portugal foi, óbvio, uma grande potência, a seu tempo. Inegável. Irrefutável. Mas não a superestimemos!"
Nova resposta de Marcelo
"Vamos lá:

1. Se eles não estavam guiando camelos, o que faziam ? Temos algum país muçulmano economicamente avançado ? Só têm destaque quando jogam dois Boeings contra NY ou em mais um atentado à bomba;

2. Contra o acaso não tenho argumentos. Imagino quantos outros irreponsáveis aventureiros o Rei Felipe de Aragón y Castella financiou de Colombo. Deve ter sido por tentativa e erro. E os navegadores devem ter estudado na consagrada Escola de Sagres, no Algarve;

3. Esta é uma avaliação subjetiva tua. Trocaria a expressão desonestidade por astúcia.

4. O Iraque é uma nação soberana. Os as forças lideradas pelos EUA apenas derrubaram o governo. Os motivos podem ser criticados, mas o Iraque ainda é um país. O Brasil, na época, fazia parte do extenso Império Português. Assim, não foi saque. E não vem com esse papo que o ouro pertencia aos índios... Que tal devolvermos tudo agora para eles ? Os portugueses atravessaram o Oceano Atlântico em 1500 enquantos estes índios comem insetos até hoje;

5. A saga de supremacia global portuguesa durou séculos e e mudou a geografia da época. Já citei o meu respeito pelo Império Britânico. Quanto aos franceses, realmente influenciaram os costumes e a estrutura da sociedade, mas me indique literatura sobre o desconhecido Império Francês. Aproveita e manda também sobre o Prussiano e Austríaco.

6. Consideremos um empate no quesito influências entre França e Portugal;

7. Portugal foi sim um grande Império."
Colocação feita por David G.B.
"Há uma unanimidade entre os historiadores quanto à questão de a Conquista de Ceuta ser o início da expansão portuguesa. Foi uma praça conquistada com relativa facilidade, por uma expedição organizada por D. João I, em 1415.
O
Infante D. Henrique é quem promove os Descobrimentos Portugueses.
Paralelamente, há um outro projecto assinado como um projecto nacional - o norte de
África. Este projecto era um projecto prestigiado pela coroa portuguesa, pois tratava-se de conquistar, de fazer guerra. Após a Conquista de Ceuta, segue-se o desastre de Tânger, em 1437, com a derrota portuguesa. Segue-se um conquista de uma série de praças: Alcácer Ceguer, Arzila, Tânger, Azamor, Safim, Mazagão.
Ainda durante o reinado de
D. João I, e sob comando do Infante D. Henrique dá-se o redescobrimento da Madeira, uma expedição às Canárias em 1424 e o descobrimento dos Açores.
O redescobrimento da
Madeira dá-se em 1419/20. Em 1419 a ilha de Porto Santo foi redescoberta por João Gonçalves Zarco e em 1420 a ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de um redescobrimento porque já havia conhecimento da existência das ilhas da Madeira no século XIV. Isso é-nos revelado na cartografia do século XIV. Em 1424 inicia-se a colonização da Madeira.
Em
1427, inicia-se o descobrimento do arquipélago dos Açores. Nesse ano é descoberto o grupo oriental dos Açores (São Miguel e Santa Maria). Segue-se o descobrimento do grupo central (Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial). Em 1452 o grupo ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por João de Teive.
Na regência de
D. Duarte, Gil Eanes dobra o Cabo Bojador em 1434. A partir daqui, o Infante D. Henrique promove o descobrimento da costa africana, por sua própria iniciativa, sem intervenção da coroa, até 1460.
Já na regência de
D. Afonso V, em 1441 Nuno Tristão chega ao Cabo Branco, em 1443 a Arguim e em 1444 à Terra dos Negros.
Em
1444, Dinis Dias descobre Cabo Verde e segue-se a ocupação das ilhas ainda no século XV, povoamento este que se prolongou até ao século XIX.
Em
1445, António Fernandes chega a Cabo dos Mastos.
Em
1460, Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Neste mesmo ano falece o Infante D. Henrique.
A missão antes comandada pelo
Infante D. Henrique vai parar às mãos do Infante D. Fernando. Em 1469, D. Afonso V entrega esta missão a um mercador da cidade de Lisboa, Fernão Gomes.
Em
1471, inicia-se o descobrimento do arquipélago de São Tomé e Príncipe. Em 21 de Dezembro de 1474, João de Santarém descobre a ilha de S. Tomé. Pêro Escobar descobre a 17 de Janeiro de 1475 a ilha do Príncipe. A ilha de Ano Bom é descoberta já no reinado de D. João II, em 1 de Janeiro de 1405, hipoteticamente por Diogo Cão.
Em
1472, Gaspar Corte Real descobre Terra Nova, e em 1473 Lopes Gonçalves ultrapassou o Equador.
Desde 1474/75 o príncipe D. João, futuro rei, fica responsável pela tarefa dos descobrimentos. Este sobe ao trono em 1482. Nesse mesmo ano organiza a primeira viagem de
Diogo Cão. Este faz o reconhecimento de toda a costa até à região do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão, leva a cabo uma segunda viagem estendendo-se até à Serra Parda.
Em
1487, Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três caravelas, atinge o Cabo da Boa Esperança.
Face à chegada de
Cristóvão Colombo em 1492 à América, segue-se a promulgação de três bulas papais - as Bulas Alexandrinas - que concediam ao reino de Espanha o domínio dessas terras.
Será esta decisão de
Alexandre II que irá vingar. Face a isso, D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem a intervenção do Papa. Assim, em 1494 é assinado o Tratado de Tordesilhas: o Mundo é dividido em duas áreas de exploração: a portuguesa e a espanhola. O mundo seria dividido em função de um semi-meridiano que deveria passar a 370 léguas de Cabo Verde - "mare clausum".
No reinado de
D. Manuel I, parte do Restelo, a 8 de Junho de 1497, a armada chefiada por Vasco da Gama. Tratava-se de uma expedição comportando três embarcações. É a partir da viagem de Vasco da Gama que se introduzem as naus. A 9 de Maio de 1498 Vasco da Gama chega a Calecute.
Em 1500, parte a segunda expedição para a
Índia comandada por Pedro Álvares Cabral. Era uma expedição composta por três embarcações. Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de Cabo Verde, desvia-se da rota e em Abril de 1500 chega a uma terra denominada Ilha de Vera Cruz, mais tarde Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil - face à abundante existência de madeira pau-brasil. Pedro Álvares Cabral chega a Calecute em 1501. Ocorrem alguns confrontos com o Samorim, com o qual Pedro Álvares Cabral acaba por romper relações. Assim, dirige-se para Sul e estabelece uma feitoria em Cochim.
Ainda durante o reinado de
D. Manuel organiza-se uma terceira armada à Índia, comandada por João da Nova.
Em
1501, envia-se a segunda armada para o Brasil.
Em
1514, Jorge Álvares atinge a China.
No reinado de
D. João III (1521-1557) a partir de 1534 inicia-se a colonização do Brasil com a criação das primeiras capitanias.
Em
1557 os Portugueses estabelecem-se em Macau."
Resposta de Alexandre
"Acho que vocês não estão me entendendo.....

Eu em nenhum momento afirmei que Portugal não foi importante... Apenas afirmei, e afirmo novamente, que o Marcelo está superestimando – e muito – a importância que ele desempenhou e continua a desempenhar na história.

1. Não foi – com absoluta certeza – mais importante que a França, no que deixa de vestígios para hoje.

2. Como todos os outros grandes, teve duração durante certo tempo, após o qual perdeu sua força. Não foi exceção.

3. Marcelo, se tu não conheces a importância dos muçulmanos na história, demonstras imensa ignorância, ainda que desculpável, pois não és o único. O fato de hoje não existir nenhum país muçulmano importante pode ser visto nas obras “Uma história dos povos árabes”, de Albert Hourani, ou “O Oriente Médio”, de Bernard Lewis. Mas continuar afirmando que eles não foram importantes é burrice mesmo. Leia também “As cruzadas vistas pelos árabes”, de Amin Maaluf. Fará bem à tua total desinformação acerca deste povo.

4. David, parabéns por teres pesquisado! A pesquisa está ótima e perfeitamente correta. Espero ao menos que tenhas lido!! Acredito ser a primeira vez que tu te proporcionas um momento de cultura como este....

5. Marcelo, mais uma vez tu: acho que um pouco de estudos sobre antropologia também te faria bem, pois estás demonstrando ignorância, novamente, quando fala dos índios....

6. Ainda não entendi de onde tu afirmas tão tranquilamente que o Brasil pertencia ao Império Português, que isso está correto e que os índios não eram os verdadeiros donos do território, e quais são teus critérios para tal afirmação... De novo, deves estudar antropologia...

7. A saga da supremacia lusa durou séculos, sim, e mudou a geografia do mundo! Perfeito. Como também duraram séculos o Império Romano e outros tantos outros... Aliás, já que tu utilizas os dias de hoje como modelo, quando falas dos muçulmanos, me diga: qual a importância de Portugal hoje????????

8. Os costumes atuais são baseados naqueles franceses. O Código Civil Napoleônico inspirou e inspira até hoje o mundo todo. Os conceitos de política (esquerda e direita, e outros tantos outros) provêm da Revolução Francesa; Os primeiros economistas (os fisiocratas) são franceses. A França já foi o centro da diplomacia mundial, assim como também o foi a Áustria, no início do século XIX (favor estudar Metternich). Os autores franceses do século XVIII e XIX são considerados os maiores, junto com os Russos. Por favor, não compare a influência portuguesa com a francesa, essa comparação é descabida.

9. Afirmo pela última vez que não estou negando a importância lusa para a história mundial, de ontem e de hoje. Mas a estás superestimando, é só isso que eu gostaria de deixar claro... "

02 junho 2005

Os melhores livros

15 melhores livros de todos os tempos!


1. Crime e Castigo - Dostoievski
2. Don Quixote - Cervantes
3. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
4. O velho e o mar - Hemingway
5. O príncipe - Maquiavel
6. 1984 - George Orwell
7. Admirável mundo novo - Aldous Huxley
8. Guerra e Paz - Tolstoi
9. O deserto dos Tártaros - Dino Buzzati
10. Adeus às armas - Hemingway
11. Almas mortas - Gogol
12. A metamorfose - Kafka
13. Dom Casmurro - Machado de Assis
14. O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
15. A lua vem da Ásia - Campos de Carvalho

1.Com absoluta certeza cometi alguma injustiça nesta lista, mas de cabeça foram estes os livros selecionados
2.Tirando o primeiro livro da lista, a ordem dos demais não indica uma posição por qualidade; fica difícil estabelecer qual é melhor ou pior, todos são obras-primas.