30 setembro 2005

O eleito de Lula

Editorial da Folha de S. Paulo:
"Quanto terá custado a eleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP) para a presidência da Câmara dos Deputados? "Apenas" R$ 1 bilhão do Orçamento que o Executivo, à véspera do pleito, prometeu gastar? Quantos cargos cedidos a partidos da base governista beneficiários do "valerioduto"? Que tipo de acordo político terá sido feito com quem está interessado na impunidade?
Essas perguntas evidenciam a nódoa que paira sobre a vitória do governismo. Em demonstração de que nada aprendeu com o escândalo que devastou o PT e abalou seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pôs em campo estratégia cuja lógica é muito parecida com a que comandou os pagamentos a bancadas no âmbito do "valerioduto".
Foi opção cara e de eficácia arriscada -apenas 15 votos decidiram a disputa a favor de Rebelo. Além disso, denotou uma intromissão abusiva do Poder Executivo nos assuntos do Legislativo.
Já o eleito de Lula, o alagoano Aldo Rebelo, começou mal no posto. Em infeliz manifestação de desconhecimento da atitude exigida de seu cargo, disse que terá coragem "para condenar quem tiver culpa", mas também "coragem e isenção para defender quem não tiver culpa".
Do presidente da Câmara não se espera que condene nem absolva ninguém, mas que, como magistrado, conduza os processos políticos com lisura, garanta o amplo direito a defesa e se exima de manobras procastinatórias. Quem condena ou absolve é o plenário, em votação secreta.
Mas Rebelo não tem a isenção necessária para presidir pelo menos a um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar, o do deputado petista José Dirceu. O presidente da Câmara foi testemunha de defesa do ex-ministro. Deveria se considerar impedido de deliberar sobre qualquer aspecto do caso.
De todo modo, sob a chefia de Aldo Rebelo na Câmara aumenta muito a chance de que interesses escusos selem um pacto para a impunidade de parlamentares que participaram do "valerioduto" e dos que foram responsáveis pelo esquema criminoso. É por isso que sua presidência merece vigilância implacável dos que não desejam esse final melancólico."
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P.S. Para quem continua achando que Lula não deveria sofrer impeachment, pelas mais diversas razões e desculpas, agora verá no que vai resultar esse conformismo e boa vontade para com o presidente: impunidade, e os brasileiros novamente feitos de palhaços...

29 setembro 2005

É possível estar mal e pensar direito?

Excelente artigo sobre depressão, do psicólogo Contardo Calligaris, publicado na Folha de S. Paulo de hoje (vale a pena ler):
"Uma das questões mais interessantes da psicologia das últimas décadas é a seguinte: em que medida o sofrimento psíquico de um sujeito deve ser relacionado com um defeito de sua percepção e de seu entendimento do mundo? Obviamente, a pergunta é relevante só quando o sofrimento é uma condição severa e duradoura.
Tomemos, por exemplo, a depressão, um estado patológico que, em princípio, não nos torna delirantes nem alucinados. "Ser" depressivo (diferentemente de "estar" deprimido) significa passar, ao longo da vida, por vários episódios de depressão profunda e sofrer de uma constante dificuldade em encontrar a vontade de viver.
Pois bem, será que ser depressivo implica (como causa ou como efeito) um erro de percepção e de pensamento? Qualquer terapeuta gostaria que fosse assim: bastaria corrigir o erro e, com isso, quem sabe a depressão fosse "curada". Se você é depressivo e enxerga o mundo como a brincadeira sádica de um deus maléfico, talvez você seja vítima dessa visão "errada". Ao corrigi-la com as palavras certas, a gente transformaria seu humor de vez, faria de você outra pessoa.
Mas sobra a pergunta: será mesmo que, por você ser depressivo, sua percepção do mundo está errada?
Em 1979, foi publicada uma experiência (Abramson e Alloy, "Journal of Experimental Psychology", vol. 108, nº 4), na qual dois grupos de sujeitos (os deprimidos e os "saudáveis") deviam descobrir se suas ações tinham ou não alguma influência sobre uma lâmpada que, de fato, se acendia e se apagava ao acaso. Os não-deprimidos, apesar dos desacertos, concluíram que suas ações eram eficazes. Os deprimidos concluíram (corretamente) que suas ações não tinham eficácia nenhuma e que não havia como fazer a cabeça da maldita lâmpada.
Para alguns críticos, a experiência demonstrava apenas o pessimismo dos deprimidos. Mas resta que, no caso, a conclusão dos deprimidos foi certeira; portanto caberia salientar o extravagante otimismo que extraviou os não-deprimidos e constatar o realismo dos deprimidos. Aliás, a questão levantada pela experiência de 79 entrou para a história da psicologia como problema do "realismo depressivo" (há novas experiências publicadas no recente vol. 134 do "Journal of Experimental Psychology").
O interesse desse debate não é só clínico. Acaba de sair um livro imperdível, "Lincoln's Melancholy: How Depression Challenged a President and Fueled His Greatness" (a melancolia de Lincoln: como a depressão desafiou um presidente e alimentou sua grandeza), de Joshua Wolf Shenk. Shenk se baseia nos relatos dos que foram próximos de Abraham Lincoln para confirmar que ele foi clinicamente deprimido durante a vida toda. Logo, o autor se pergunta se essa depressão grave e crônica constituiu um impedimento ou se, ao contrário, foi uma vantagem na conduta do presidente americano durante a Guerra de Secessão.
Ora, Shenk argumenta de maneira convincente que a depressão de Lincoln foi responsável por suas qualidades de estadista. A seguir, alguns exemplos:
1) A depressão clínica é sempre acompanhada por um intenso processo de pensamento: reavaliação contínua da realidade, dúvidas sobre a ação certa, exame constante de consciência e por aí vai. Esse processo leva o sujeito a um conhecimento especial das contradições de sua própria alma e da dos outros. Na vida pública, isso permite negociar sem desprezo pela parte adversa.
2) O deprimido que ultrapassa suas crises sem sucumbir tem, em regra, a coragem e a capacidade de encontrar motivações sem recorrer a grandes princípios (o que pediria um entusiasmo que é impossível na depressão). Lincoln, embora convencido de que a abolição da escravatura fosse moralmente correta, nunca invocou a certeza de que Deus estaria do seu lado, mas alegava (inclusive por escrito) que, quanto a Deus, cada lado podia considerá-lo seu aliado. É uma outra qualidade crucial para a vida pública, a não ser que a gente prefira entregar as rédeas do governo a iluminados e fundamentalistas.
3) A adversidade, para o deprimido, é, por assim dizer, natural (nada existe sem antagonismo). Deparar-se com oposição e derrota é, para ele, uma travessia normal. O resultado é a perse- verança.
Recentemente, uma psiquiatra (Kay Redfield Jamison, "Touched with Fire: Manic Depressive Illness and the Artistic Temperament", tocados pelo fogo: a doença maníaco-depressiva e o temperamento artístico) mostrou que uma cura apressada da depressão nos privaria de inúmeros talentos artísticos e literários. Shenk estende o mesmo princípio a uma figura política; ele mostra que, no caso de Lincoln, a depressão não foi "uma falha de caráter que desqualificaria a liderança de um sujeito". Longe de comprometer o pensamento e as decisões do presidente, ela foi o traço de caráter que fez dele o estadista lúcido e necessário num momento sombrio da história de seu país.
Em suma, muitas aventuras dolorosas da mente são partes da subjetividade de quem sofre e, às vezes, partes irrenunciáveis, cuja "cura" deixaria o mundo mais pobre e mais estúpido."

28 setembro 2005

Jovens do Irã preferem Axl Rose a Khomeini

Este artigo foi publicado em 1995, por Geraldine Brooks, no jornal O Estado de São Paulo. Dez anos depois, é de se supor que as obrigações burladas por jovens só tenha aumentado. Interessante para refletir sobre a possível ocidentalização que estes anseios podem vir a promover no Irã.

"Numa casa de tijolos quadrada no norte de Teerã, Youssef Sayed acorda com o som das preces matinais de seu pai: 'Louvado seja Alá, senhor da criação, cheio de compaixão, de mercês...'. Youssef rola para fora da cama e geme. Na luz pálida da aurora, um rosto sério e sombrio olha para ele da parede do quarto. É um pôster de Axl Rose.
Youssef completou 16 anos este ano [1995] e o mesmo aconteceu com a revolução islâmica do Irã. Vestindo-se para ir à escola, Youssef escolhe um jeans e depois uma calça bem larga do pai. Sua escola proíbe o uso de jeans por considerá-los excessivamente ocidentais. Mas Youssef os usa mesmo assim, debaixo da calça do pai. Jeans, só na volta para casa, para impressionar melhor as garotas que encontrar no caminho.
No andar de baixo, a irmã mais nova de Youssef, Laila, se esforça para esconder os longos cabelos casatanhos num maghmeaeg preto - um xale semelhante ao de uma freira, cujo efeito não chega a prejudicar a beleza de sua pele sedosa. Sobre a túnica exigida pelo islamismo, ela joga uma jaqueta militar americana. Tanto ela quanto o irmão usam sapatos pretos sem logotipos, que os identificam como fãs do heavy metal. Os fãs do rap preferem marcas famosas, como Nike ou Adidas.
(...) Tal como Youssef, metade dos 62 milhões de iranianos nasceu depois que o aiatolá Khomeini voltou do exílio em 1979. Principalmente nos ricos subúrbios do norte de Teerã, mas também nas favelas e nas comunidades rurais, esses filhos da revolução mostram ser impressionantemente resistentes aos valores revolucionários. E dia após dia, tal como um tapete persa sobre o qual incide a forte luz do sol, seu fervor pelo Estado islâmico desbota cada vez mais.
Durante a metade de suas vidas, o país esteve envolvido numa ruinosa guerra com o Iraque. A guerra custou cerca de meio milhão de vidas e empobreceu o Irã, deixando adolescentes como Youssef com a obrigação de freqüentar salas de aulas abarrotadas com 50 ou mais alunos, funcionando em três períodos diários. Quando se formarem, eles enfrentarão um índice de desemprego que, na sua faixa etária, beira os 30%. Enquanto isso não acontece, suas energias juvenis têm poucas válvulas de escape legais numa cultura religiosa xiita, cujo calendário é dominado por comemorações de martírio e rituais de luto.
O resultado é uma geração cínica, por vezes silenciosamente subversiva, propensa a mentir em público enquanto abraça em particular os emblemas culturais do oficialmente odiado e desprezado Ocidente".

José Simão

Em tempos de mensalão generalizado, um pouco de humor. Coluna do impagável José Simão, na Folha de S. Paulo de hoje:
"Buemba! Heloísa Helena cria o PTbull!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O braço armado da gandaia nacional. Direto do País da Piada Pronta! Frase da semana: O PT é um partido que começou com presos políticos e pode acabar com políticos presos! E aquela eleição do PT? Com tantos laranjas e o candidato se chama POMAR?
E os Irmãos Bacalhau disseram que o juiz ladrão vai fraudar mais um resultado: Pavilhão 9 x Bangu 1! E diz que o juiz já indicou os substitutos: Marcos Valério, Severino, Bob Jefferson e Zé Dirceu! E o empresário que roubava com o juiz se chama Fayad. Mais um brimo. Vão ter que abrir franquia do Habib"s na Polícia Federal -Habib"s Mooca, Habib"s Lapa e Habib"s PF! E esta: Agente 86 morre aos 82. Então morreu adiantado!
E os petistas tão indo todos para o partido da Heloísa Helena. A mulher com dois Hs! E do jeito que ela é brava devia mudar o nome daquele partido para PTbull! Petistas vão do PT para o PTbull! E aquele site Eu Hein tá indignado: mensalão na política, mensalão no futebol, só falta a PF descobrir que a Luma de Oliveira é travesti! Rarará!
E tem um novo site de humor na internet, é o Aboboral, que ensina um novo verbo: eu malufo, tu dantas, ele severina, nos valeriamos, vos delubiais e eles jefferson! E eu não agüento mais ver aquele prédio da Polícia Federal. Toda vez que eu ligo a TV tem um repórter na porta da PF! É o novo point das celebridades.
Baixa no Humor Nacional. Morre o Golias, o Bronco. E todo mundo tinha mania de relacionar as pessoas com a cara do Golias. O Parreira é a cara do Golias. Só que o Golias Emburrado. E diziam que o Bush é a cara do Golias. Aí já é ofensa. E eu morava perto do Golias e ele me chamava de Zé Simões. E ele era o mesmo na padaria e na "Praça É Nossa". Ele não fazia tipo, ele era o tipo. Ele tava sempre com aquela boca torta do Bronco, barriga de fora e todo mundo dando risada!E era engraçado em casa também. Um vez a Hebe e a Nair Bello foram jantar na casa dele. Na hora da sopa, caíram óculos no prato da Hebe! A mãe do Golias tinha deixado cair os óculos na sopeira! É mole? É mole, mas sobe.
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Portugal tem um restaurante chamado A Tromba Rija! A Tromba Rija? Devem servir Bacalhau de Viagra!E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Pungente": companheiro que solta pum no elevador. Rarará. Nóis sofre mas nóis goza. Hoje, só amanhã."

25 setembro 2005

Faltando tempo...

Os estudos estão roubando tempo antes dedicado a este blog... Porém, deixo aqui algumas dicas:
A partir do dia 09 de outubro, às 22hs, estréia na HBO a série "Roma", em 12 capítulos. Trata do período em que Júlio César toma o poder, e vai até sua morte. É uma superprodução, ao estilo de "Band of Brothers", e pelo visto vale a pena assistir.
Será lançado esta semana o livro "Complô contra a América", de Phillip Roth. É um romance no qual ele usa de pano de fundo a história da Segunda Guerra Mundial, mas com uma grande e fatal alteração: nos EUA "reconstruídos" por Roth, Roosevelt teria perdido as eleições de 1940 (na verdade, ele se reelegeu pela terceira vez nesta data) para Charles Lindberg, anti-semita e simpatizante do nazismo. E ele conta então como seria "se" isso tivesse acontecido (embora os historiadores estejam cansados de saber que "se" nao existe em História). Promete também ser uma leitura extremamente agradável, pelo inusitado do contexto criado e pela qualidade do autor. Com certeza semana que vem teremos resenha deste livro aqui no blog!
Fora isso, agradeço pelas mais de mil visitas registradas aqui no site!! Obrigado pela participação de todos!

20 setembro 2005

Cabresto vermelho

Editorial da Folha de S. Paulo de hoje:

"Nada do outrora chamado "patrimônio ético" do PT parece resistir a uma pequena investigação. Neste fim de semana, caiu por terra mais um mito da série: o de que a democracia petista se exibiria, mais do que em qualquer outro partido político brasileiro, no seu processo de eleição direta de dirigentes.
Bastou a votação de domingo ser acompanhada mais de perto pela imprensa -interessada no efeito sobre a continuidade da legenda do escândalo de corrupção que envolve lideranças do partido - para um festival de práticas irregulares emergir.
Um motorista de van disse que, a R$ 100 e mais R$ 1 a cabeça, transportava militantes até o local do voto. O preço mínimo de compra de sufrágios foi R$ 5 -caciques pagaram esse valor para quitar a contribuição de filiados, que assim ficavam aptos a votar em seu benfeitor. Cola com o número do candidato fazia parte do "kit". O serviço foi personalizado; veículos buscavam filiados em casa.A reportagem da Folha perguntou a uma dessas pessoas agraciadas com um "city tour" até o local da votação qual seria sua escolha na urna. Resposta: "Deixa eu olhar aqui no papel (...) Não acompanhei nada dessa eleição. Não estou sabendo".
Os termos que definem essa prática - coronelismo, curral eleitoral, voto de cabresto - vêm de longe no tempo e no espaço. São ecos do atraso do Brasil rural da primeira metade do século passado. Mas foram adaptados pelos coronéis de subúrbio da caciquia petista ao país urbano de periferias superpovoadas e igualmente desprovidas.
E basta o leitor atento do noticiário perguntar-se quem financia essa cabrestagem toda para começar a entender as conexões entre o modo petista de conduzir seu rebanho e o de negociar nas altas esferas da política nacional - este tão bem expresso no neologismo "valerioduto". Afinal, o dinheiro do aluguel da van e da compra do voto dificilmente constará de contabilidades oficiais.
Depois desse triste espetáculo, que revela maneiras atrasadas de a liderança tratar seu eleitor direto, fica mais difícil acreditar que o partido esteja determinado a mudar."

19 setembro 2005

E você aí, só assistindo...

Da coluna "Painel", na Folha de S. Paulo de hoje:

"Pelo cansaço
A liminar concedida pelo presidente do STF, Nelson Jobim, foi apenas o começo. Muito bem orientados, os "mensaleiros" do PT pretendem lançar mão de uma série de expedientes destinada a postergar suas cassações para o dia de São Nunca.

Pára tudo
Os deputados petistas com a corda no pescoço querem agora recorrer ao Supremo Tribunal Federal para que seus processos no Conselho de Ética só comecem a andar depois de julgado o mérito das ações.

Todos por um
Outro recurso para protelar o andamento das cassações de petistas é pedir à Justiça que a Corregedoria envie os processos ao Conselho de Ética somente depois de todos os acusados terem prestado depoimento, o que levaria, por baixo, um mês."

17 setembro 2005

Venda de livros lá embaixo...

Não perguntem tanto por que o Brasil não vai pra frente... Alguns dados estão na nossa cara, como mostra a reportagem do caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo de hoje:

"Venda de livros cai ao nível de 1991
Renda do brasileiro sobe, mas setor negocia 1 milhão de obras a menos que no início dos anos 90
O mercado editorial de livros não-didáticos teve em 2004 um desempenho em vendas igual ao verificado em 1991. Segundo a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, foram vendidos no ano passado 289 milhões de livros, ou 1 milhão a menos do que o montante negociado no início da década passada. De 1992 a 2003, a população com mais de dez anos de idade aumentou em 29 milhões. A proporção de pessoas com mais de oito anos de estudos cresceu no período de 25,4% para 41,2%, ao mesmo tempo em que caiu a taxa de analfabetismo e a porcentagem de crianças fora da escola.
Para Marino Lobello, vice-presidente de Comunicação da CBL (Câmara Brasileira do Livro), o aumento da renda e da escolaridade pouco influem no mercado por causa de uma questão cultural. 'É verdade que esse é um país de renda média baixa, mas, mesmo que a renda aumente, o livro não faz parte da cesta básica cultural do brasileiro. É por isso que o mercado fica estabilizado num patamar. Ele cresce um pouquinho, cai depois, mas continuam sendo apenas 26 milhões de brasileiros que lêem quatro livros por ano e ponto final', afirma ele.
Comparação
De fato, o índice de leitura no Brasil é muito baixo quando comparado com países desenvolvidos. De acordo com a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2001, a média de livros lido per capita aqui é de 1,8. Na Inglaterra, essa média chega a 4,9. Nos Estados Unidos, é de 5,1 e, na França, atinge 7.
O gasto médio das famílias brasileiras com livros, jornais ou revistas também é muito baixo se comparado com outros produtos que poderiam ser considerados supérfluos.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, realizada em 2003, mostra que, na divisão dos gastos em praticamente todas as classes sociais, esses artigos ficam atrás das despesas médias com cigarro, perfume ou cabeleireiro e manicure.
Gasto com internet e celular afetam vendas
Famílias com maior poder aquisitivo consomem de quatro a seis vezes mais esses produtos do que livros
Para os economistas Fábio Sá Earp, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e George Kornis, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que realizaram no ano passado um estudo sobre o mercado editorial brasileiro a pedido do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte da explicação do problema com as vendas de livros está também no fato de as famílias de maior renda terem passado a dividir seu orçamento com outros gastos, como telefones celulares, TV a cabo e internet.
'Os compradores significativos de livros são os 10% mais ricos no Brasil. Esses tiveram queda na renda de 1993 a 2003 e, ao mesmo tempo, apareceram novas necessidades, como o celular e a internet, com o que estes consumidores têm um gasto de quatro a seis vezes maior do que com bens editoriais, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE', afirmam os economistas."
Alguns números da pesquisa:
61% dos brasileiros adultos têm muito pouco ou nenhum contato com livros.
47% dos alfabetizados declaram possuir no máximo dez livros em casa.
17 milhões de pessoas não gostam de ler livros.
(Fontes: IBGE, Câmara Brasileira do Livro, Sindicato Nacional dos Editores de Livros e Pesquisa Retrato da Leitura no Brasil 2001)

15 setembro 2005

Dicionário da crise - por Roberto Jefferson

Pra quem não compreendeu todas as expressões e palavras do discurso de Roberto Jefferson - aquela figurinha que denunciou crimes ao ser pego praticando um deles - vai aqui uma ajuda cultural:
Homúnculo – homenzinho, em tom pejorativo.
"Ouvidos pios" – ouvidos piedosos, caridosos.
Rufião – indivíduo que se mete em briga por causa de mulheres de má reputação, ‘cafetão’.
Fratricida – assassino de irmão ou irmã, pessoa que assassina ou concorre à morte ou ruína de alguém.
Libelo – exposição articulada daquilo que se pretende provar contra um réu, apresentada após sentença de pronúncia, à qual se deve conformar.
"Paladino da ética" – cavaleiro andante, exemplo da ética.
Vituperavam – injuriavam, insultavam, afrontavam.
Fariseu – fiel orgulhoso ou hipócrita, indivíduo que aparenta santidade, não a tendo.
Proxeneta – pessoa que ganha dinheiro servindo intermediários em casos amorosos; o mesmo que rufião.
"Geni do Brasil" – referência à música de Chico Buarque “Geni e o Zepelin”, que trata de uma prostituta na qual todos jogam pedras e criticam.
Soslaio – obliqüidade, través, esquivar-se, olhar de lado.

Tragam meu nariz de palhaço de volta!

Putz, e eu achando que já dava pra começar a pensar em guardar o nariz de palhaço na gaveta, acabo de tirá-lo de lá e colocá-lo no seu devido lugar, meu nariz! Olhem a notícia desta tarde no site do Terra, tratando mais uma vez o povo brasileiro como idiota...
"Quinta, 15 de setembro de 2005, 14h23 Atualizada às 15h13
STF suspende processo de cassação de Dirceu

O Supremo Tribunal Federal suspendeu o processo de cassação do deputado José Dirceu no Conselho de Ética. Outros seis deputados do PT conseguiram a liminar na quarta-feira. Eles são acusados de envolvimento no suposto esquema do "mensalão" pelas CPIs dos Correios e do Mensalão, que pediu a cassação de 16 deputados no total."

Enquetes

Como podem ver, a partir de hoje teremos enquetes aqui no Blog (algo que já vinha sendo cobrado por alguns assíduos leitores). Via de regra, elas durarão uma semana, no máximo 10 dias. Há a possibilidade de se realizar enquetes com perguntas do tipo sim/não ou mesmo mais elaboradas, com até 8 opções de respostas.
Portanto, espero o voto e participação de todos que acessam o site, inclusive sugerindo enquetes para as semanas seguintes.

14 setembro 2005

E agora, Severino?


Sebastião Buani mostra cópia do cheque que incrimina Severino Posted by Picasa

Agora chega

Acaba de ser transmitida, direto da Polícia Federal, pela GloboNews, entrevista com o empresário Sebastião Buani. O empresário mostrou, em frente às câmeras, cópia do cheque que ele alegava ter entregue a Severino Cavalcanti, e que este desmentia. Pois bem, o cheque apareceu, e foi descontado pela secretária de Severino, comprovando o pagamento do "mensalinho".
Agora chega, né, gente. Passou da hora de guardar indignação embaixo do colchão!! Os mesmos desmentidos enfáticos que até hoje deu Severino são dados por Lula e o resto da camarilha petista. Até quando vamos fingir que acreditamos neles? Vai precisar mais cópia de quantos cheques?
Volto a repetir: por coerência, Lula deve sofrer processo de impeachment. A situação é igual ou pior do que a de Collor, afastado pelo mesmo instrumento. A resposta deve ser também a mesma. Que Maluf e Severino não sirvam para deixarmos em segundo plano a roubalheira petista.

O segredo do casamento

Artigo de Stephen Kanitz na Veja desta semana:
"Meus amigos separados não cansam de me perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.
O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. O segredo, no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.
Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial? Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter sua irrestrita atenção?
Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.
Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo círculo de amigos.
Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro, e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas, e você ainda terá a pensão dos filhos da união anterior.
Não existe essa tal "estabilidade do casamento", nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", mas saber mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, por que não fazer na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.
Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive a seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão; por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par".
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Stephen Kanitz é administrador por Harvard (http://www.kanitz.com.br/)

12 setembro 2005

Conspiração

Artigo do jornalista Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo de sábado:
"O presidente da República está enfrentando seus piores resultados em sucessivas pesquisas de opinião pública.
A maioria de seus concidadãos questiona fortemente suas qualidades para a liderança e há até sinais de queda no apoio entre os eleitores de seu próprio partido.
Uma pesquisa muito recente informa que o presidente tem fortes qualidades de liderança para apenas 48% dos consultados, o mais baixo índice até agora registrado e muito abaixo do recorde (83%). Além disso, as pesquisas mostram que o presidente é o tipo de líder que provoca divisões no país, em torno de linhas partidárias.
Ou seja, é aprovado pelos eleitores de seu próprio partido na mesma proporção em que é fortemente rejeitado pelos eleitores do principal partido oposicionista.
O petista hidrófobo dirá: ah, lá vem esse chato de novo criticar o Lula e apontar fatos para os quais prefiro fechar os olhos.
Desta vez, não. Lula até merece todas as críticas que lhe são feitas, e até algumas que ainda nem lhe foram feitas, mas as informações que abrem este texto são uma tradução, adaptada, de noticiário de ontem do jornal britânico "Financial Times".
Referem-se a George Walker Bush, não a Luiz Inácio Lula da Silva. Mas têm um segundo ponto em comum: ambos caem como conseqüências de crises (Bush pelo desempenho após o furacão Katrina; Lula pelo conjunto da obra pós-denúncia do "mensalão").
A grande diferença é que, lá, não aparece nenhum maluco para dizer que há uma conspiração da elite contra Bush. Preferem lidar com fatos, não com delírios.
Vai ver que é por isso, entre outras razões, que conseguem ser o que são, e nós só passamos vergonha".

09 setembro 2005

Sinal dos tempos

Coliseu de Roma vai ser isolado por cerca de metal
BBC - Assimina Vlahou - de Roma
Por medidas de segurança, o Coliseu de Roma vai ser circundado por uma cerca de metal - na primeira vez que isso acontece em seus 2 mil anos de história.
A estrutura terá 2,20 metros de altura e vai ser instalada a 6 metros de distância do monumento. Haverá aberturas apenas nos pontos de entrada e saída.
Na área, que será monitorada constantemente por câmeras, não vai ser permitida circulação de pessoas sem autorização.
Além dos cerca de 13 mil visitantes diários, ficarão distantes outros habituais freqüentadores da região, como os vendedores de lembranças e os "gladiadores" que posam para fotos com os turistas.
Alvo
A decisão foi tomada pelo secretário de Segurança de Roma, Achille Serra, junto com o prefeito Walter Veltroni e o superintendente de Bens Arqueológicos da cidade, Angelo Bottini.
Segundo Serra, a medida reforça o plano antiterrorismo que já está sendo aplicado na cidade. Ele garantiu, porém, que não há sinais de alarme específicos com relação ao Coliseu.
Antonio Capaldo, assessor da Secretaria de Segurança, disse à BBC Brasil que a necessidade de isolar o monumento foi indicada pelo superintendente de Bens Arqueológicos.
"Sendo o Coliseu um símbolo de Roma, pode ser considerado como um dos maiores alvos para um eventual ato criminoso", afirmou Capaldo.
História
Construído entre os anos 72 e 80 D.C., o verdadeiro nome da edificação é anfiteatro Flavio.
Ele ficou conhecido como Coliseu porque na área onde foi erguido existia uma estátua colossal de Nero, representado como o Deus-Sol.
A fama do Coliseu deve-se principalmente às lutas entre gladiadores que eram travadas em sua arena.
Mas também passou à historia, ainda que isso não seja documentado, como o lugar onde foram martirizados os primeiros cristãos, que eram lançados em jaulas de tigres e leões.
A criação de um recinto protegido em torno do Coliseu não é a única medida que visa reforçar a segurança e impedir ações terroristas.
Há vários dias já estão sendo usados detectores de metal para controlar os visitantes e suas bolsas.
"Os detectores de metal já tinham sido usados após os atentados de Nova Iorque e de Madri", disse à BBC Brasil Rossella Rea, da Superintendência de Bens Arqueológicos.
Exercícios
A barreira de metal que vai dar a volta em torno do Coliseu, entretanto, nao é vista como a melhor solução para isolar e proteger o monumento. Mesmo porque não terá caráter definitivo.
Não se trata apenas de uma questão estética, mas principalmente de segurança, segundo Rossella Rea.
"O único modo para protegê-lo de forma definitiva seria englobá-lo na área do foro romano, ampliando o recinto e fechando tudo como uma área monumental", disse ela.
O projeto prevê que bilheteria, vendedores ambulantes e serviços higiênicos fiquem do lado de fora.
Só teria acesso ao monumento quem já tivesse comprado o ingresso e passado pelo controle.

08 setembro 2005

Rádio Cultura

Para quem curte música clássica e muita informação de qualidade, indico a Rádio Cultura SP, que infelizmente não pode ser sintonizada nos rádios aqui de Porto Alegre. Porém, pela internet é possível ouvi-la no endereço:
http://www.tvcultura.com.br/radiofm/
Nesta semana, por exemplo, contou com uma entrevista com FHC na terça-feira às 8hs, e na quarta, feriado, uma longa entrevista com um dos maiores historiadores do país, Nicolau Sevcenko.
A rádio é ótima, vale a pena conferir.

02 setembro 2005

Palhaços

O governo do presidente Lula não se cansa de protagonizar cenas vergonhosas... Não bastassem os escândalos que vemos dia após dia, ontem parece ter havido a superação final: o presidente da Câmara, aquela figura ridícula, patética e ignominiosa, foi agraciado, na cerimônia de formatura dos novos diplomatas, no Itamaraty, com a Ordem do Rio Branco, a mais alta distinção concedida pelo governo brasileiro no campo das relações iternacionais!
Pelo amor de Deus, é o grand finale de uma imensa piada que o PT promove nesse circo que se transformou o Brasil. É a gozação na nossa cara, é a falta de respeito nítida e clara, zombeteira, com o cidadão normal que procura levar uma vida decente num país prá lá de indecente. O PT e Lula aprimoraram a máxima de tratar o povo brasileiro como palhaço, perderam o menor traço de vergonha que ainda podia existir nesse covil chamado Congresso Nacional.
E a sociedade brasileira insiste em esconder a indignação embaixo do tapete...
O presidente do IBOPE, Carlos Montenegro, em entrevista à revista Carta Capital desta semana, afirmou que, na crise atual, qualquer outro presidente já teria caído. O que está havendo? Estamos hipnotizados, embasbacados, amedrontados, atraídos por Lula? O que ele desperta na gente pra "desencadear" tamanho comodismo? O que falta pra exigirmos todos o impedimento do presidente, a camarilha que o cerca e todos os parlamentares envolvidos nessa piada de mau gosto?
Talvez tirar o nariz de palhaço com o qual comodamente aprendemos a viver... Ou então, talvez seja mesmo melhor considerar a hipótese de que somos todos palhaços de verdade!

01 setembro 2005

Velhinha tinha conta no exterior

Artigo de Luis Fernando Veríssimo, publicado no jornal Zero Hora de hoje, sobre a famosa Velhinha de Taubaté, morta poucos dias atrás:

"Prosseguem as investigações sobre a morte da Velhinha de Taubaté, que ficou conhecida nacionalmente por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O inquérito está sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dada a repercussão do caso.
Um promotor sai de cinco em cinco minutos da sala em que está sendo interrogado o gato da Velhinha, o Zé, para informar à imprensa o que se passa lá dentro, embora o gato tenha, até agora, dito muito pouco. “Miau”, basicamente.
Houve um princípio de tumulto entre repórteres quando uma equipe da televisão, gravando clandestinamente no interior da casa da Velhinha, localizou um pedaço de papel com números e o que parecia ser a palavra “off-shore” em letra tremida, o que indicaria que a Velhinha tinha uma conta no exterior, onde receberia para acreditar no governo.
Depois se revelou que eram números para jogar na Sena, que a Velhinha sempre acreditava que ia ganhar, e que a palavra escrita era “oxalá”. Mas alguém ficou com o papel e é possível que a notícia “Velhinha tinha conta no exterior” apareça em alguma manchete nos próximos dias para atrair a atenção, mesmo que o texto diga outra coisa. Sabe como é a imprensa.
Todas as CPIs em andamento no Congresso Nacional disputam a prioridade em convocar o Zé para depor em Brasília, o que tem acirrado o conflito entre elas, que muitos temem possa acabar numa guerra aberta com congressista brigando com congressista pelos corredores e todos se juntando para pegar o ACM Neto.
Só o gato poderia contar o que realmente aconteceu, na improvável hipótese de, ao contrário do que fizeram tantos outros nas CPIs, começar a falar. Mas pode-se deduzir o que levou a Velhinha a morrer — ou se matar com veneno no chá. Ela nunca se recuperou totalmente do choque da notícia da compra de votos para reeleger o Fernando Henrique, seu ídolo na ocasião, apesar de depois acreditar em todos os desmentidos.
Debilitada, sofreu outro baque com as denúncias contra o Palocci, seu ídolo atual, e outro baque quando soube que nem no Ministério Público se podia confiar. Foi demais para a Velhinha.
O curioso é que as alegres multidões que iam até a sua casa na esperança de ver o fenômeno, um brasileiro que ainda acreditava, estão sendo substituídas por tristes romeiros que visitam o santuário improvisado na frente da sua casa, em Taubaté, na esperança de recuperar a fé.
A Velhinha pode muito bem se transformar em milagreira depois de morta. As pessoas querem acreditar, pelo menos, em quem acreditou um dia."