27 julho 2005

Alegrete

Estou indo para Alegrete, capital do Rio Grande do Sul durante a Revolução Farroupilha (nunca é demais um pouquinho de cultura, mesmo numa nota despretenciosa como esta). Portanto, só farei novas postagens no domingo. Até lá, dá para aproveitar e ler - ou reler - as notas publicadas anteriormente, no link Arquivo.
Aproveitarei estes dias de descanso para já deixar preparados novos posts, que publicarei assim que chegar. Até mais!

26 julho 2005

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado

O senador Jefferson Peres, uma das raras exceções da política brasileira - em vários sentidos, seja em relação a honestidade ou cultura - brindou-nos esses dias, na CPMI, com um momento raro.
Não inquiriu Delúbio Soares, afirmando ser uma perda de tempo inquirir uma testemunha que chegava ali munida de um habeas corpus, ou seja, estava lá para mentir deslavadamente (um desses mistérios que a legislação brasileira permite, pois a dona da Daslu não teve esta mesma possibilidade, não foi avisada antes. Por que junto com ela não invadiram também a casa de Delúbio e cia.? Note-se que não defendo a impunidade para a Daslu; defendo ações iguais para todos; se prisão para ela, prisão também para a máfia petista!).
Mas, voltando a Jefferson Peres (PDT), alegou que não havia razão para inquirir Delúbio. E, sobre o momento por que passamos, acrescentou: "tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado".
Como este site sempre valoriza a cultura, como já fez em relação a Roberto Jefferson (vide a nota sobre Lupicínio), fui buscar as informações sobre a frase do senador Peres. É uma música, um famoso fado português, interpretado por Amália Rodrigues, famosa cantora lusitana. E segue a letra:
...................
Tudo isto é fado (Amália Rodrigues)
"Se queres ser o meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Nao me fales só de amor
Fala-me também do fado
E o fado é o meu castigo
Só nasceu pr'a me perder
O fado é tudo o que digo
Mais o que eu não sei dizer
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lime
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado"

25 julho 2005

O que é isso, companheiro?

Trechos do artigo do escritor João Ubaldo Ribeiro, publicado no jornal O Globo deste domingo, com o título acima (em tempo: o escritor votou em Lula):

"(...) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desrespeita e subestima os governados, despreza-lhes a inteligência, julga-os cegos diante dos acontecimentos e surdos-mudos depois deles. (...) Não fizemos uma revolução, optamos pela mudança por vias democráticas, levamos ao poder um operário, um herói de origem humilde, um lutador, um desbravador, um que se proclamou ser aquele que mudará.
E de fato mudou. Quer dizer, mudou ele. Hoje temos a nos presidir um assassino de sonhos e esperanças, um que diz, com o semblante jovial, que o partido que vinha para mudar já começou por não mudar coisa nenhuma, ou melhor, ao que tudo indica, aperfeiçoou os mecanismos do embuste e da ladroagem, a partir da própria campanha.
(...) Apenas digo que, na minha opinão, que só retiro se um juiz ordenar, Vossa Excelência sabia da bandidagem de seus auxiliares e, vai, ver, tacitamente a aceitava, ou seja, calava e, pois, consentia. E digo, interprete Vossa Excelência como lhe for servido, que corrupto não é só quem quem frauda diretamente ou põe dinheiro no bolso: é também quem vê e ou finge que não vê, ou não liga e não faz nada, sabendo que é seu dever fazer algo. Sobretudo em casos assim, a conivência ou negligência faz alarmante fronteira com a complicidade."

23 julho 2005

A crise, por Noblat

Publicado hoje no site do jornalista Ricardo Noblat

Lula e o PT foram vítimas de chantagem no último sábado dia 9 quando o empresário Marcos Valério telefonou para o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e ameaçou "ferrar" todos se não fosse poupado. E avisou que tinha bala até contra "o barbudo".

O Globo publicará amanhã que ontem Valério voltou a repetir a chantagem - dessa vez para abortar a convocação da mulher dele para depor na CPI dos Correios. O depoimento está marcado para a próxima terça-feira. A mulher está em pânico.

O PT e o governo não deveriam também estar em pânico, não é mesmo? Afinal, ambos juram ser inocentes. O governo porque diz que se houve alguma coisa irregular foi lá para as bandas do PT. Ele é inocente, portanto. O PT porque proclama sua inocência.

Tudo bem: o ex-tesoureiro Delúbio Soares admite que montou um caixa 2 para pagar antigas dívidas do partido e financiar dívidas futuras. Assume o crime que considera banal, corriqueiro, e que de fato é - mas que nem por isso deixa de ser crime.

Só que Delúbio mente quando nega o pagamento de mensalão a deputados dos partidos aliados. Mente quando nega mesadas pagas a deputados do PT. E mente quando diz que empréstimos bancários tomados por Valério foram a única fonte do caixa 2.

Houve mensalão, sim. Houve mesada, sim. E o caixa 2 do PT foi irrigado por dinheiro público desviado para as contas das empresas de Valério. E por comissões pagas por empresários para ganhar milionárias licitações promovidas pelo governo.

Há mais ou menos dois meses, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o então secretário-geral do PT, Sílvio (Land Rover) Soares disse que o partido tinha um projeto de poder para no mínimo dois mandatos consecutivos - oito anos. E disse mais:

- Não dá para separar o PT do governo. Todos nós estamos no mesmo barco: se o governo Lula der certo ou der errado vai significar que o PT deu certo ou deu errado.

Sílvio (Land Rover) acertou na mosca. Não tem como separar o governo do PT e vice-versa. Até porque Lula deixou que o PT tomasse conta do aparelho do Estado. E fizesse o que julgou necessário para garantir o projeto de poder que também era dele.

É falsa a discussão sobre se Lula sabia ou não da existência do mensalão, se soube ou não que cabeças coroadas do PT cobravam comissões por negócios arranjados com o governo, se estava ou não de acordo com todos esses desmandos.

No detalhe, poderia não saber. E não querer saber. Mas estava a par, sim, das atividades de Delúbio, Silvinho e companhia ilimitada. E a elas se rendeu constrangido (ou nem isso) como única forma de alcançar o poder e de nele permanecer.

Lula estava presente ao encontro que em meados de 2002 selou a aliança do PT com o PL do vice-presidente José Alencar, como contado em reportagem de Bob Fernandes publicada em outubro daquele ano na insuspeita revista Carta Capital.

Ao lado de Alencar, e depois de o aconselhar a não pôr um tostão do seu bolso, ele viu quando os companheiros José Dirceu, Delúbio Soares e o deputado Waldemar Costa Neto, presidente do PL, se trancaram num quarto de apartamento em Brasília.

E viu quando algum tempo depois saíram de lá abraçados e felizes. Haviam finalmente fechado o acordo. Que custou ao PT R$ 10 milhões para pagamento de despesas de campanha do PL - e sabe-se mais lá do quê.

Quem consente na compra de um partido consente na compra de deputados para que votem de acordo com o governo. Os R$ 10 milhões não devem ter sido declarados à Justiça Eleitoral. Como não foram os milhões do caixa 2 montado por Delúbio.

Temos, pois, um presidente da República, o governo dele e o partido dele sob o risco iminente de irem pelos ares se Valério contar o que sabe. Se a mulher de Valério contar o que sabe. Ou se a CPI dos Correios concluir o que todos já sabemos.

Quem poderá dar um jeito na situação? O Congresso. Mas antes ou ao mesmo tempo ele terá de dar um jeito em si mesmo realizando o maior expurgo de todos os tempos. Sem resgatar sua legitimidade não poderá resgatar a do Executivo.

Meus caros, jamais vimos e espero que jamais voltemos a ver uma crise como est. Perto dela, a que derrubou Collor foi um traque. Collor e PC Farias não passavam de uns trombadinhas de luxo. Só os charutos cubanos aproximam as duas crises."

22 julho 2005

Mudança de slogan

Aqui também, como era de se esperar...

Do Painel, na Folha de S. Paulo de hoje:

"Tem pra todos

Um dos candidatos da esquerda à presidência nacional do PT, Raul Pont também recebeu ajuda do BMG. Foram entregues R$ 30 mil para sua campanha à Prefeitura de Porto Alegre em 2004, no dia 29 de outubro".

21 julho 2005

Morte anunciada

"Se eu ganhasse a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes para não passar vergonha. Por que sabe o que acontece? Tem muita gente que tem o direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada: é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a gente assume. E, quando não as cumprir, ter coragem de discutir por que não cumpriu".

[Luiz Inácio Lula da Silva, novembro de 2000, em entrevista à revista Caros Amigos].

Se tudo der certo, como ele próprio previu, DEVE MORRER POR ESTES DIAS...

20 julho 2005

Some documento que compromete deputado do PT

Tenho por hábito acompanhar diversos sites de notícias - nacionais e internacionais. Um dos melhores hoje em dia é, sem dúvida, o do jornalista Ricardo Noblat (o link está no título deste post e na barra lateral deste site). Vale a pena ler; é um site no qual o jornalista "narra" o país, contando e comentando os principais acontecimentos do momento.
E foi lendo o site que minha indignação subiu às alturas. Vejam esta nota, postada na madrugada do dia de hoje:

Sumiu do arquivo da CPI dos Correios documento com assinatura da mulher do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) que prova que ela sacou em setembro de 2003 R$ 50 mil em espécie da conta da SPM&B do empresário Marcos Valério na agência do Banco Rural em Brasília.
O documento chegou à CPI juntos com outros no meio da tarde de hoje. Foi remetido pelo banco depois que a CPI quebrou o sigilo das empresas de Valério. Foi manuseado por vários parlamentares. Até que desapareceu.
Informado, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI, convocou uma reunião de emegência que ocorreu por volta das 21h30 em uma das dependências do Senado. Compareceram menos de 10 dos 32 membros da CPI.
Não foi a primeira vez que sumiu documento da CPI dos Correios. No último dia 6, Amaral informou a seus colegas que desaparecera relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (COAF) sobre as movimentações financeiras "atípicas" de Valério, a mulher dele, Renilde, e de parte de suas empresas.
Amaral foi obrigado a pedir ao COAF nova cópia do documento."
.
É este o jeito com o qual o Partido dos Trabalhadores trata a democracia? Por que tenho a nítida impressão de jamais ter tido notícia de um regime verdadeiramente de esquerda que não tenha adotado práticas ditatoriais?
O fato de a esquerda não aceitar críticas e fatos que a desabonem é uma triste constatação de que suas práticas passam longe e ao largo do verdadeiro ideal democrático. É uma vergonha o que estamos vivendo hoje no Brasil. Onde estão os estudantes, onde está a UNE que saiu às ruas pedindo o impeachment de Collor? A corrupção hoje, em números reais ($$) é muito maior, mas não vemos tanta indignação. O que está havendo? Seremos roubados e enganados e não vamos reagir? Assistiremos a tudo isso calados?

19 julho 2005

Livro da Semana: Fahrenheit 451

A história se passa em um mundo organizado, no qual a fonte de todos os perigos são os livros. Eles representam um perigo à ordem, uma vez que permitem às pessoas raciocinar, ao invés de seguir as fórmulas pré-determinadas pelos donos do poder. Assim, o Corpo de Bombeiros, detentor da ordem social, tem a paradoxal missão de queimar todos os livros que porventura possam existir. Aqueles que os possuírem, têm também suas casas incendiadas. O nome do livro vem do fato de que o papel queima à temperatura de 451 graus, na escala Fahrenheit.
No decorrer da história, Montag, um bombeiro, conhece uma moça que faz nascer nele um sentimento estranho. Ele então começa a guardar os livros que deveria queimar. Descoberto, precisa fugir. Sai da cidade, e encontra um grupo de pessoas vivendo à margem da sociedade, também foragidas pelo mesmo crime. Estas pessoas têm uma estratégia singular para fugir ao controle imposto por este mundo em que são forçadas a viver: cada uma delas decora um livro, que vai assim continuar existindo, em suas memórias.
“- Montag, gostaria de ler A República de Platão, um dia?
- Com certeza.
- Eu sou a República de Platão. Gostaria de ler Marco Aurélio? O sr. Simmons é Marco Aurélio.”
Assim, eles lêem os livros, decoram-nos e depois os queimam, para que ninguém os descubra. “O melhor será guardar tudo na memória, onde ninguém irá procurá-los (...) Apenas temos um fim, preservar os conhecimentos que nos serão preciosos um dia”.
É realmente um clássico, que consagrou o autor Ray Bradbury. Um daqueles livros imperdíveis, difícil de largar antes do final. Verdadeira obra-prima.
Interessante também é conhecer que ele inspirou o nome do último filme de Michael Moore, Fahrenheit 9/11. Este nome é uma alusão ao livro em questão e ao fato de que o governo Bush também seria um incinerador de idéias e de pensamentos (ou seja, foi inspirado direta e totalmente na obra de Bradbury). À época, o autor até ameaçou processar Moore pelo uso indevido do título, mas resolveu não levar a discussão adiante (de onde se conclui também que o moralista Moore não é tão santo assim, pois “roubou” o nome de seu filme sem ao menos pedir autorização ao dono da idéia).
Bom, espero ter novamente despertado o interesse de alguns. Garanto que vale a pena (e, assim como o livro anterior, é uma obra de poucas páginas, para a qual se pode encontrar “espaço” mesmo nessa correria dos dias de hoje).

18 julho 2005

Fuga de novo?

Carta enviada ao jornalista Ricardo Noblat pelo presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais. E agora, gente? Vamos assistir ao mesmo filme?

"Prezado Noblat: o repórter César Oliveira, da Agência de notícias do nosso site (Agência Fenapef)- http://www.fenapef.org.br/ - tem informes de que o Marcos Valério vai fugir do país e não vai demorar. Ele já está esquentando as turbinas. Deixo esse aviso aqui para que fique registrado o fato e também para que não venham cobrar no futuro os policiais federais por essa fuga praticamente anunciada, assim como fizeram indevidamente na fuga do PC Farias. Aliás, esse filme já vimos e até a careca é a mesma.
Francisco Carlos Garisto (Presidente da Fenapef - Federação Nacional dos Policiais Federais)

Bom começo!

Quero agradecer aos incentivos e elogios que tenho recebido por este blog! Que bom que meu objetivo está sendo atingido. Sobre a última postagem, que fala do livro do García Márquez, o retorno foi surpreendente! Acreditem, não foram poucos os amigos e amigas que me falaram que queriam ler a obra, e outros tantos que já até mesmo compraram o livro!!
Esta era minha intenção desde o começo: discutir cultura, educação, política, e trazer aos amigos um pouco das minhas idéias e conhecimento!
Espero que continuem acessando o site!! E que sempre que tiverem algo a acrescentar ou discordar, façam seus comentários. Eles são muito importantes. Quanto mais participarem, mais atraente ficará este espaço para todos. Aguardem para os próximos dias o novo Livro da Semana!!
Abraços!!
P.S. Passem o mouse em cima dos títulos, porque muitas vezes há um link para a notícia ou informação à qual estou me referindo. Isso acontece, por exemplo, na notícia acima postada ("Fuga de novo?"), que remete ao site do Ricardo Noblat! Confiram!

12 julho 2005

Livro da Semana: Memória de minhas putas tristes

Gabriel García Márquez é insuperável. Quem já teve o prazer de lê-lo sabe do que eu estou falando. "Cem anos de solidão" deve figurar na lista dos melhores livros de qualquer leitor que se preste a elaborar uma. E nada melhor que começar esta idéia com este autor. Ahh, qual idéia? A partir de agora, vou colocar aqui uma seleção de livros, um por semana. Livros que já li ou que estarei lendo, ou terminando. E terminei ontem a leitura da mais nova obra de García Márquez, Memória de minhas putas tristes.
O livro é magnífico. Marca a volta de García Márquez aos romances, após uma ausência de uns dez anos. Embora o título e o primeiro parágrafo possam sugerir algo pornográfico, a obra constitui-se de uma antologia do amor: o narrador é um velho de noventa anos, que conta sua vida até esta idade, na qual se apaixona pela primeira vez. Começa de forma surpreendente - com uma daquelas aberturas que com certeza vai entrar para o rol das melhores introduções já escritas:
"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver".
"(...) Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha que ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo?"
E então o livro torna-se surpreendente! O velho senhor acha a menina virgem que procura, mas na noite marcada, não a possui! Ela é uma pobre menina, que trabalha o dia todo e cuida dos irmãos. Chega ao bordel cansada, e dorme a noite inteira. O que vai se suceder está dentro daquele surrealismo tão fantástico de García Márquez: o velho e a menina virgem passam a dormir juntos (dormir mesmo, não fazer sexo), e se apaixonam um pelo outro, sem jamais terem conversado (pois sempre que o velho chega para o encontro, a menina já está dormindo)!
O autor desenha o amor irreal do velho e da menina virgem, de uma forma que só os grandes autores são capazes. Livro imperdível, pequeno em números de páginas, imenso em conteúdo!

11 julho 2005

Fora Lula?

"Após frustrar irremediavelmente a generosa expectativa da nação, resta ao presidente reconhecer o estado de ingovernabilidade do país e propor ao Congresso uma emenda constitucional convocando eleições presidenciais para outubro. (...) Se o presidente tivesse dignidade, deveria renunciar. Seria uma saída democrática para a crise, em face da falta de legitimidade de um mandato construído por estelionato eleitoral".
Amigos, este texto, não se espantem, é de autoria de Tarso Genro, atual presidente do PT! Mas foi dito à época de FHC (aliás, Arnaldo Jabor disse esta semana, na Feira Literária de Parati: "A maior sabotagem que se viu na história política, maior até que na ditadura, foi o que os petistas e a USP fizeram nos oito anos de governo FHC". É Jabor, oposição irresponsável é com o PT mesmo).
Por que agora o ministro Genro não faz jus a suas idéias e põe novamente seu discurso em ação? Ou será que agora as coisas estão diferentes? O grande problema do PT, eu já afirmei, é que eles acham que o passado pode ser apagado e reescrito tantas vezes quanto for necessário (igualzinho ao que ilustram as obras-primas "1984" e a "Revolução dos bichos"). Não, petistas, não pode! A gente tem memória - ok, alguns poucos têm, mas já basta. Não apague suas falas de ontem, Tarso, e exija agora o "Fora Lula" e antecipação das eleições! Ou sua incoerência virá se somar a sua ideologia atrasada, fracassada em todos lugares em que foi posta em prática. É o mínimo que você pode fazer agora.

06 julho 2005

Nervos de aço, de Lupicínio Rodrigues, e o Princípio de Peter

Homenagem a Roberto Jefferson, figurinha suja, mas que possui o inegável mérito de desmascarar aquele partido que, segundo o Princípio de Peter - que cria a expressão "nível de incompetência", ou seja, o grau a partir do qual as pessoas já não possuem competências para a posição que ocupam - não deveria nunca ter sido alçado a um posto ao qual todas as pessoas - ao menos as minimamente inteligentes - sabiam não ter capacidade e aptidão.
Nervos de aço, Lupicínio Rodrigues
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?
Ter loucura por uma mulher?
E depois encontrar este amor, meu senhor
Nos braços de um tipo qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer?
E depois encontrá-lo em uns braços
Que nem um pedaço do meu pode ser
Há pessoas com nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, despeito, amizade ou horror
Eu só sinto que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor
P.S. Mestre Lupicínio que, desnecessário lembrar, é autor do hino do imortal tricolor, o clube mais vitorioso do sul do país: Grêmio, até a pé nos iremos!

01 julho 2005

D. João e sua sabedoria

Nestes tempo de crise no governo Lula, algumas reflexões e um pouco de cultura são sempre bem-vindas. Como disse Gabeira, em entrevista à revista Veja, "a chegada de Lula foi uma crueldade histórica": "(...) a eleição de Lula representou, simbolicamente e pela via eleitoral, a chegada de um operário ao poder, mas em um momento em que isso já não significava muito mais. Era um sonho retardatário. Nós chegamos a ele atrasados em relação à situação mundial." É mais ou menos aquilo que todo mundo já sabe, mas que alguns fingem não acreditar: o sonho do socialismo provou ser apenas isso, um sonho...
Vale a pena ler a revista L'Histoire (a mais respeitada revista de história do mundo), de abril-junho 2005, cujo assunto é "200 ans de combat, Le grand rêve du socialisme" (200 anos de combate, O grande sonho do socialismo). Realmente muito interessante.
Porém, quando comecei a escrever este post, a idéia que tinha na cabeça era outra: em meio a tanta confusão, roubalheira e crise total, Lula poderia abandonar o barco e seguir o ensinamento de D. João. Conta a história que, em 1808, quando a família real portuguesa tem de dar o fora de Portugal e refugiar-se no Brasil, por ocasião da invasão da França de Napoleão, ele teria dito ao cocheiro que o conduziria ao navio de partida: "Ande, nem tão rápido que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação."
Uma boa sugestão ao governo petista, e um pouquinho de cultura àqueles que ainda insistem em remar contra a correnteza e gostar de adquiri-la.