15 dezembro 2005

Mãe Dinah

Vou fazer previsão (não, não se preocupem, este blog não vai desbancar para a cartomancia, é uma e tão somente uma previsão): a eleição presidencial do ano que vem será decidida não agora, nem nos dias ligeiramente anteriores a ela. Será decidida nos meses de junho e julho, por ocasião da Copa do Mundo de futebol!
É o seguinte: usando de um exagerado simplismo, e me baseando nos mais óbvios preconceitos e leituras da mente brasileira, afirmo hoje, 15 de dezembro de 2005, que o resultado da eleição será o seguinte, de acordo com o resultado da Copa:
Cenário 1: o Brasil perde e é desclassificado logo na primeira fase, algo aparentemente inacreditável e improvável (mas, como estou usando chavões e simplismos, vale lembrar que o "futebol é uma caixinha de surpresas", de onde se conclui que até isto é possível). Resultado eleitoral: derrota acachapante de Lula, independente do candidato lançado pela oposição. Nem a mais vil estratégia eleitoral dá a vitória a Lula nesta hipótese.
Cenário 2: o Brasil avança, joga bem, mas fica pelo meio do caminho, sem ter chegado à final. Resultado eleitoral: imensa incógnita, tudo é possível. É o único cenário no qual o futebol sai de cena, e a eleição passa a ser medida por outros fatores (andamento da atual crise, gastos em obras e políticas assistencialistas, etc.).
Cenário 3: o Brasil é campeão! E Lula se reelege... Com absoluta certeza, Lula fica imbatível até mesmo com a simples chegada da seleção à final. Perdendo, apela-se para o sentimentalismo e orgulho brasileiro, naquelas propagandas que só o PT consegue bolar. Ganhando, então, nem se fala: "O melhor do Brasil é o brasileiro" vira fichinha, a televisão é inundada de propaganda governamental apelando para a "maravilha de ser brasileiro". Não tem como Lula perder. Dada a última campanha petista, e as atuais propagandas, todas de cunho altamente patriota e sentimentalóide (não sentimentalista, que isto até teria seu valor), não consigo imaginar se para Lula o melhor seria a seleção ganhar ou perder a final. Perdendo, traz-se a imagem do lutador, trabalhador, que "não desiste nunca" - iguala-se a imagem da seleção à do presidente - o que poderia ser um ótimo mote para a campanha. Enfim, neste cenário, Lula é reeleito com absoluta tranquilidade.
Tá aí! Feitas as previsões. Imprima, recorte, e me cobre em outubro ou novembro do ano que vem. E se quiser, pode até parar de ler jornal - ao menos a parte de política. Porque a roubalheira vai continuar, e a eleição será definida só durante a Copa. Era isso!

07 dezembro 2005

O dia depois de amanhã

Pra quem acha que cientistas e ecologistas fazem alarde demais sobre a situação do planeta, veja este artigo publicado na Folha de S. Paulo, no dia 01 de dezembro! É ou não assustador? Realmente perturbador, mostra que já passou da hora de nos preocuparmos de verdade (e começarmos a agir).



Cena do filme "O dia depois de amanhã" Posted by Picasa

Corrente do Golfo enfraqueceu, diz estudo
Britânicos detectam pela primeira vez impacto do aquecimento global no mecanismo, que leva calor para a Europa
"No filme-catástrofe 'O Dia Depois de Amanhã', de 2004, o aquecimento global provoca o desligamento da corrente oceânica que leva calor à Europa e causa uma era glacial. Hoje, um estudo mostra que parte desse cenário de ficção já está acontecendo. Seus autores afirmam que a circulação do Atlântico Norte está 30% mais fraca de 1957 para cá.
O achado, publicado no periódico científico 'Nature' por um trio de cientistas da Universidade de Southampton, Reino Unido, é uma confirmação sombria de previsões realizadas pelos modelos climáticos. A maioria deles indica que o efeito estufa eliminaria a chamada corrente do Golfo, mecanismo que e impede que o noroeste da Europa tenha temperaturas árticas no inverno.
O que pouca gente achava era que esse efeito já estivesse em curso. 'Nós não vamos mergulhar numa Era do Gelo, mas o mecanismo proposto no filme está em ação', disse à Folha o ocenógrafo Detlef Quadfasel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha, que comentou o estudo na 'Nature'. 'É algo previsto pelos modelos, mas que estamos vendo acontecer pela primeira vez.'
Esteira d'água
O sistema de correntes do Atlântico funciona como uma colossal esteira que transporta água e calor dos trópicos para o pólo Norte através da corrente do Golfo. A água quente, menos densa, trafega pela superfície marinha. Ao chegar ao mar do Norte e à costa da Groenlândia, no entanto, essa água resfria e fica mais salgada, ganhando densidade. Então ela afunda e retorna para o sul, na forma de corrente submarina.
Já faz algum tempo que os climatologistas prevêem que o derretimento de geleiras na Groenlândia e o aumento das chuvas na bacia do mar do Norte, devido ao efeito estufa, provocariam uma redução da salinidade e um aumento da temperatura da água. Como resultado, o afundamento da corrente deixaria de acontecer, desligando a esteira. As médias na Europa cairiam até 4C.
Para dar uma idéia do que tal redução significa, basta dizer que, na última Era do Gelo, quando uma capa de gelo de 2 km de espessura cobria Nova York, a temperatura global era 10C menor.
Para entender a quantas anda a circulação do Atlântico Norte, um grupo da Universidade de Southampton monitora temperatura e salinidade das correntes atlânticas na zona tropical desde 1957. A última dessas medições foi realizada em 2004, pelo grupo do oceanógrafo Harry Bryden.
Bryden e sua equipe descobriram que, a partir da década de 1990, algo mudou na esteira oceânica: o braço da corrente que circula pelo meio do oceano, com águas quentes, sofreu um aumento de 50% do seu fluxo. Mas o braço submarino de retorno, entre 3.000 m e 5.000 m, sofreu uma redução de 50%. Mais: a porção mais profunda - e mais fria - da corrente simplesmente sumiu. No total, a redução de fluxo estimada é de 30%. Bryden descarta que seja uma variação natural do sistema.
Sem a diferença de densidade para causar convecção no pólo, a água quente fica fluindo em círculos no meio do Atlântico. 'As incertezas são grandes, mas mesmo que a redução seja de 10% é algo significativo', disse Quadfasel.
Por enquanto, os efeitos do enfraquecimento da esteira oceânica não se fizeram sentir na Europa. 'Como no oceano tudo acontece muito devagar, esses resultados não provocarão uma corrida dos americanos e norte-europeus aos para comprar roupas de frio e ou se mudar para o sul', diz o climatologista Carlos Nobre, presidente do IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera).
'Porém, a se confirmar tal tendência por mais uma ou duas décadas, aí sim, se poderia começar a derrubar estátuas do [presidente dos EUA, George W.] Bush, como fizeram com as do Saddam Hussein', brinca Nobre, em alusão à rejeição americana do Protocolo de Kyoto, acordo mundial contra o efeito estufa."

05 dezembro 2005


Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:

" Entre 7 de setembro e 4 de novembro de 1940, a aviação alemã despejou várias toneladas de bombas sobre Londres, numa das mais violentas batalhas da Segunda Guerra Mundial.
Durante o que ficou conhecido como a Batalha da Inglaterra, foram 57 noites de puro horror. A população da capital inglesa viveu esses dias inteiramente aterrorizada, dormindo em abrigos e voltando no dia seguinte, para encontrar, no lugar onde tinha sido sua casa, um monte de escombros.
A destruição atingiu até mesmo uma ala do Palácio de Buckingham, residência da família real. O rei George VI foi vivamente aconselhado a deixar Londres com sua mulher e suas duas filhas, uma das quais é a atual rainha Elizabeth II.Se a família real se mudasse para o interior da Inglaterra, suas chances de sobreviver às bombas nazistas seriam infinitamente maiores.
Nessa hora, ao contrário do que era aconselhado, a rainha ergueu-se como um monumento. Baixinha, gordinha, sem nenhuma importância até ali, a mulher de George VI transformou-se numa leoa, na solidariedade ao seu povo.
Não só declarou que ninguém de sua família deixaria a cidade de Londres, como passou a visitar diariamente bairros bombardeados para mostrar que a família real continuava ali, ao lado de seu povo, mesmo na mais tenebrosa adversidade.
Com isso, a rainha conquistou para sempre a admiração e o amor dos ingleses. Veio a morrer em 2002, com 101 anos, cercada pela devoção do seu povo.
Naqueles dias de 1940, a família real inglesa demonstrou uma absoluta lealdade à sua gente. A população de Londres não foi abandonada. Na mais dura prova até então vivida por uma grande cidade, os londrinos tiveram ao seu lado o seu rei, sua rainha e seu governo.
A primeira família, seja na realeza ou na República, é sempre simbólica. Ela é uma transmissora de valores, de adesão às marcas nacionais. Seus atos apontam caminhos, soluções e possibilidades. O exemplo que ela dá revela seu compromisso com o país e seu futuro.
Tudo isso me vem à lembrança quando leio nos jornais que no Brasil a esposa do presidente da República solicitou e conseguiu de um governo estrangeiro cidadania para ela, seus filhos e seus netos.
A mulher do presidente Lula, seus filhos e netos são hoje também cidadãos italianos. O que será que isto quer dizer?
Como esta atitude será interpretada pela maioria dos brasileiros, que não querem fugir do país e que tentam, todo santo dia, fazer do Brasil um país melhor?
Como o Brasil espera inspirar confiança nos investidores estrangeiros, quando a família do presidente da República já conseguiu para si mesma uma rota de fuga do país?"
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P.S.1. Também tenho direito a solicitar cidadania italiana. Todavia, como pretendo seguir carreira diplomática, acho um tanto quanto sem nexo decidir representar meu país, tendo cidadania de outro. Se quero ser um representante legítimo e fiel de minha pátria, minha ligação deve ser tão somente com ela. Por isso, em que pese alguns familiares já estarem requerendo o passaporte italiano, decidi por enquanto não solicitar o meu. Infelizmente, no Brasil de hoje quem dá exemplo somos nós, e não o governo (acho que nos Brasis de ontem também era assim, né... mas ao menos tínhamos governantes dos quais poderíamos esperar alguma atitude coerente. Não é o caso do atual governo)
P.S.2. O amigo Marcelo Ahrends leu e sugere o livro recém lançado da cientísta política Lucia Hippolito (Por dentro do governo Lula), no qual ela faz um apanhado de todos seus comentários realizados na CBN e que traçam a cronologia da crise do atual governo, com a visão do dia-a-dia de uma grande crítica e analista de nosso país. Vale a pena!!

01 dezembro 2005

Retrato da Educação

Editorial da Folha de S. Paulo de hoje.
"A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004, divulgada na semana passada pelo IBGE, indicou um considerável aumento da presença do setor público no ensino médio. Segundo a pesquisa, as escolas privadas, que em 2001 atendiam 21,4% dos estudantes, no ano passado representavam apenas 15,1% do total de alunos.
À primeira vista, os números poderiam ser interpretados como resultado de uma migração de estudantes do setor privado para o público, respondendo a políticas do atual governo. Mas não há evidências que possam comprovar essa hipótese. Segundo dados do Inep, o instituto de estatística e avaliação do Ministério da Educação, o número de matrículas no setor privado pouco variou, tendo passado de 1,15 milhão em 2000 para 1,11 milhão em 2004.
Ao que tudo indica, a demanda pelo ensino médio no setor público foi reforçada em conseqüência do maciço ingresso no ensino fundamental promovido por governos anteriores, em especial o de Fernando Henrique Cardoso. Com efeito, entre 1992 e 2002, a taxa de crianças de 7 a 14 anos fora da escola caiu de 13,4% para cerca de 3%. O crescimento proporcional da rede pública está diretamente vinculado à necessidade de vagas para absorver esse público novo, que avança nos estudos.
Ressalte-se, a propósito, a ausência de políticas de fomento voltadas para o ensino médio. Em que pesem os esforços do MEC para a aprovação da emenda que cria o Fundeb -fundo que contemplaria todos os níveis da educação básica-, não existem propostas claras para o setor, que vive à sombra do ensino fundamental.
Entre as facetas negativas reveladas pela pesquisa, chama a atenção o fato de que, pela primeira vez nos últimos anos, se constatou um aumento no número de crianças de 7 a 14 anos fora da escola. É um retrocesso, ainda mais por se tratar de faixa etária para a qual o ensino é obrigatório."
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E faça-se justiça ao governo FHC, e critique-se o governo Lula, que conseguiu a proeza de andar para trás nos índices alcançados no governo tucano. Aliás, estou para ver ainda o governo Lula em ação (ok, a ação de assaltar os cofres públicos não entra aqui, essa a gente já viu demais).