07 dezembro 2005

O dia depois de amanhã

Pra quem acha que cientistas e ecologistas fazem alarde demais sobre a situação do planeta, veja este artigo publicado na Folha de S. Paulo, no dia 01 de dezembro! É ou não assustador? Realmente perturbador, mostra que já passou da hora de nos preocuparmos de verdade (e começarmos a agir).



Cena do filme "O dia depois de amanhã" Posted by Picasa

Corrente do Golfo enfraqueceu, diz estudo
Britânicos detectam pela primeira vez impacto do aquecimento global no mecanismo, que leva calor para a Europa
"No filme-catástrofe 'O Dia Depois de Amanhã', de 2004, o aquecimento global provoca o desligamento da corrente oceânica que leva calor à Europa e causa uma era glacial. Hoje, um estudo mostra que parte desse cenário de ficção já está acontecendo. Seus autores afirmam que a circulação do Atlântico Norte está 30% mais fraca de 1957 para cá.
O achado, publicado no periódico científico 'Nature' por um trio de cientistas da Universidade de Southampton, Reino Unido, é uma confirmação sombria de previsões realizadas pelos modelos climáticos. A maioria deles indica que o efeito estufa eliminaria a chamada corrente do Golfo, mecanismo que e impede que o noroeste da Europa tenha temperaturas árticas no inverno.
O que pouca gente achava era que esse efeito já estivesse em curso. 'Nós não vamos mergulhar numa Era do Gelo, mas o mecanismo proposto no filme está em ação', disse à Folha o ocenógrafo Detlef Quadfasel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha, que comentou o estudo na 'Nature'. 'É algo previsto pelos modelos, mas que estamos vendo acontecer pela primeira vez.'
Esteira d'água
O sistema de correntes do Atlântico funciona como uma colossal esteira que transporta água e calor dos trópicos para o pólo Norte através da corrente do Golfo. A água quente, menos densa, trafega pela superfície marinha. Ao chegar ao mar do Norte e à costa da Groenlândia, no entanto, essa água resfria e fica mais salgada, ganhando densidade. Então ela afunda e retorna para o sul, na forma de corrente submarina.
Já faz algum tempo que os climatologistas prevêem que o derretimento de geleiras na Groenlândia e o aumento das chuvas na bacia do mar do Norte, devido ao efeito estufa, provocariam uma redução da salinidade e um aumento da temperatura da água. Como resultado, o afundamento da corrente deixaria de acontecer, desligando a esteira. As médias na Europa cairiam até 4C.
Para dar uma idéia do que tal redução significa, basta dizer que, na última Era do Gelo, quando uma capa de gelo de 2 km de espessura cobria Nova York, a temperatura global era 10C menor.
Para entender a quantas anda a circulação do Atlântico Norte, um grupo da Universidade de Southampton monitora temperatura e salinidade das correntes atlânticas na zona tropical desde 1957. A última dessas medições foi realizada em 2004, pelo grupo do oceanógrafo Harry Bryden.
Bryden e sua equipe descobriram que, a partir da década de 1990, algo mudou na esteira oceânica: o braço da corrente que circula pelo meio do oceano, com águas quentes, sofreu um aumento de 50% do seu fluxo. Mas o braço submarino de retorno, entre 3.000 m e 5.000 m, sofreu uma redução de 50%. Mais: a porção mais profunda - e mais fria - da corrente simplesmente sumiu. No total, a redução de fluxo estimada é de 30%. Bryden descarta que seja uma variação natural do sistema.
Sem a diferença de densidade para causar convecção no pólo, a água quente fica fluindo em círculos no meio do Atlântico. 'As incertezas são grandes, mas mesmo que a redução seja de 10% é algo significativo', disse Quadfasel.
Por enquanto, os efeitos do enfraquecimento da esteira oceânica não se fizeram sentir na Europa. 'Como no oceano tudo acontece muito devagar, esses resultados não provocarão uma corrida dos americanos e norte-europeus aos para comprar roupas de frio e ou se mudar para o sul', diz o climatologista Carlos Nobre, presidente do IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera).
'Porém, a se confirmar tal tendência por mais uma ou duas décadas, aí sim, se poderia começar a derrubar estátuas do [presidente dos EUA, George W.] Bush, como fizeram com as do Saddam Hussein', brinca Nobre, em alusão à rejeição americana do Protocolo de Kyoto, acordo mundial contra o efeito estufa."