31 outubro 2005

Comandante Fidel

Para aqueles que já estão se apressando em desqualificar a reportagem de capa da revista Veja desta semana, não esqueçam de algo importante: há alguns meses, a mesma revista noticiou a suposta doação das FARC para o PT. O assunto, como sempre acontece, foi esquecido, e a reportagem, desmerecida.
Pra quem não acompanha de perto, vale ressaltar: o então representante das FARC, que teria negociado com o PT, está PRESO pela Polícia Federal, aguardando extradição!!
E então, era fantasia e invenção da Veja? Pois é... como o assunto foi engavetado, como sói ocorrer nesta república de bananas, ninguém deu mais atenção ao fato, e ficou a reportagem como mais uma tramóia da Veja para desestabilizar o governo petista. Infelizmente, não é essa a verdade. Talvez tenhamos, mais uma vez, perdido a chance de descobrir os podres de nossos atuais governantes. Mas como a oposição é ela mesma useira e vezeira das tramóias agora praticadas pelos pesudo-éticos do PT, resolve muitas vezes enterrar fatos e investigações, com medo de que acabe por respingar nela alguma lama...
E a gente continua nessa m.....

25 outubro 2005

Vladimir Herzog - 30 anos

Hoje completam-se 30 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, pela ditadura militar brasileira. Herzog foi intimado a depor, tendo chegado ao DOI-CODI (mais brutal órgão da repressão da ditadura) na manhã do dia 25 de outubro de 1975, acreditando que prestaria depoimento e voltaria para casa ainda a tempo de almoçar com sua mulher - de quem ele se despedira naquela manhã com um beijo, ela ainda adormecida na cama, sem saber que seria sua despedida final.
Nas dependências do DOI-CODI, todavia, Herzog foi torturado até a morte, por se negar a admitir sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro. E ao já escabroso fato sucedeu-se um show de mentiras. As autoridades militares afirmaram que ele teria se suicidado com uma tira de pano. A situação que a foto abaixo mostra evidencia ser impossível de se confirmar o suicídio.
Sucederam-se atos de intimidação da imprensa e dos familiares, e o episódio ficou marcado pra sempre na triste memória do período da ditadura, que durou de 1964 a 1985 no Brasil.
Esta imagem e a memória de Herzog devem servir para que fatos como estes jamais se repitam, independente da ideologia que sirva de apoio a tiranias e ditaduras.


Herzog encontrado morto na cela do DOI-CODI Posted by Picasa

Vitória da descrença

A vitória do "não" no referendo sobre o desarmamento, no último domingo 23, foi, sem dúvida, a vitória da descrença. Foi a vitória também do medo, como afirmou na Folha de S. Paulo Jânio de Freitas. Mas esse medo talvez não existisse se a descrença não fosse tão grande...
Em resumo, ganhou não a manutenção de um direito, não o direito à autodefesa, o direito de se ter uma arma, o direito de se proteger e a sua família.
O que ganhou foi a descrença nesse país falido moralmente (pra não falar das outras áreas em que igual falência se percebe), porque até as pessoas menos instruídas - quando confrontadas com a idéia de deixar definitivamente sua segurança nas mãos do Estado - viram que seria inadmissível votar no "sim".
Um Estado corrupto, ladrão, sem-vergonha, que suga o povo e não lhe dá nada digno em troca. Um Estado cafajeste, no qual a própria polícia muitas vezes se encarrega de assumir o papel de assaltante e delinqüente. Um Estado em que as prisões são lugar de poucos (ou melhor, de muitos, os poucos ricos é que não vão jamais pra lá...).
Era a esse Estado que a gente ia confiar nossa segurança? Era em função da "proteção" desta "polícia" que abandonaríamos nossas armas e dormiríamos tranqüilos? Ora, nem cultos nem incultos cairiam nessa! O que mais se ouviu foi: "Se fosse em outro país, eu até votava no 'sim'. Mas no Brasil não dá!". Ganhou a descrença!
No fim, votaram no "sim" só os "bacaninhas", aqueles que jamais podem votar em algo que passe perto de um politicamente incorreto; também os muito idealistas, e também os lunáticos, que vivem em outro mundo e não conhecem ou não entendem a realidade brasileira; ah, votaram também no "sim" os caras-de-pau como Chico Buarque, que nem no Brasil mora!! Aí fica fácil, né Chico!?
Os outros, realistas demais para cair nessas armadilhas ou falsidades, votaram no "não". Atestaram a descrença no Brasil. Ponto pra ela!

Símbolo da luta contra preconceito morre nos EUA

Da agência AFP:
"Morreu ontem, aos 92 anos de idade, Rosa Parks, pioneira da luta pelos direitos civis para os negros nos Estados Unidos. Ela, que se tornou famosa após se negar a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco, em 1955, morreu dormindo em casa, na cidade de Detroit, acompanhada por amigos e familiares.
A negativa em ceder o assento no ônibus desencadeou um movimento para acabar com a segregação racial nos EUA. Na época, por ser negra, ela era obrigada a obedecer a solicitação, por estar no conservadora parte sul do país. Acabou presa.
Sua prisão provocou a reação dos afro-americanos, que boicotaram os ônibus de Montgomery, Alabama, durante um ano. A atitude de Parks mobilizou mais de 50 mil negros em Mongomery, que começaram a protestar por seus direitos.
Um jovem pastor chamado Martin Luther King, à época desconhecido, liderou o boicote e um movimento de não violência que geraria mudanças na legislação local, estadual e federal em favor dos negros nos Estados Unidos.
A saúde de Parks se deteriorou nos últimos anos da década de 90. Por isso, ela deixou de dar entrevistas e aparecia poucas vezes em público. Em 1995, afirmou: 'Gostaria que as pessoas dissessem que sou uma pessoa que sempre quis ser livre e que queria isso não apenas para mim; a liberdade é para todos os seres humanos', afirmou."

21 outubro 2005

Tiete

Isso sim que é tietagem! Do caderno Esportes, na Folha de S. Paulo de hoje:
"Um fã do ex-jogador de basquete Larry Bird fez uma homenagem no mínimo original a seu ídolo. Trata-se do norte-americano Eric James Torpy, da cidade de Oklahoma (EUA), que foi condenado a 30 anos de prisão por homicídio e roubo.
Admirador de Bird, Torpy pediu que sua sentença fosse aumentada em três anos, pois assim igualaria o número da camisa do ex-jogador do Boston. Bird defendeu o Boston de 78 a 92, equipe pela qual sagrou-se tricampeão. Também em três oportunidades foi eleito o melhor jogador da temporada da liga profissional de basquete. Seu pedido foi prontamente acatado pelo juiz Ray Elliott.
- Acatamos o pedido e ele ficou bastante contente. Nunca vi nada igual em 26 anos no tribunal. Mas sei que está feliz, comentou o magistrado."

19 outubro 2005

O réu Saddam Hussein

Editorial da Folha de S. Paulo de hoje:
"O ex-ditador do Iraque, Saddam Hussein, começa a ser julgado hoje. Os crimes perpetrados por ele enquanto esteve no poder não foram poucos nem pequenos. A organização de direitos humanos Human Rights Watch calcula em 290 mil o número de iraquianos assassinados sob seu governo. Não estão aí incluídas as centenas de milhares que morreram em conseqüência das guerras iniciadas pelo ex-ditador.
A condenação de Saddam é uma certeza. Ele até pode não ser o responsável por todos os delitos de que será acusado, mas não há nenhuma dúvida de que é o mandante de inúmeros crimes capitais. O juízo que começa hoje é o relativo à execução de mais de 140 homens e meninos na cidade xiita de Dujail, em 1982, depois que a polícia secreta iraquiana desbaratou uma tentativa de assassinar o então ditador do país.
Há quem acredite que, se Saddam for julgado e condenado por esse crime, poderá ser executado antes de responder a acusações mais graves, que poderiam criar embaraços para as potências ocidentais que apoiavam o ditador enquanto ele fazia a guerra contra o Irã do aiatolá Khomeini, visto como "ameaça maior".
São vários os indícios de que Saddam não terá um julgamento tão justo como deveria. Para começar, seus juízes e acusadores foram também suas vítimas, o que os torna pouco isentos. Algumas medidas foram tomadas de forma açodada e acabam por limitar o direito de defesa do acusado. Um exemplo: num sinal de transparência, o juízo será transmitido pela TV, mas, para garantir que Saddam não diga nada muito incômodo, haverá um intervalo de 20 minutos entre os depoimentos e a sua transmissão. Qualquer indiscrição poderá ser censurada.
Não há dúvida de que teria sido melhor reservar ao ex-ditador um juízo mais isento sob os auspícios da ONU. Mas o fato de Saddam ser enfim julgado por seus crimes é um dos poucos efeitos colaterais positivos da invasão do Iraque pelos EUA."

18 outubro 2005

Desarmamento - resultado da enquete

Na semana que antecede ao plebiscito do desarmamento, a enquete que perguntava quem era a favor ou contra o desarmamento terminou com o seguinte resultado:

A favor: 25%
Contra: 75%

A partir de hoje teremos uma enquete mais amena, sobre a média de leitura de quem acessa este blog. Mas atenção! Não é para mentir, até porque os votos são secretos, então ninguém vai ficar sabendo quem resolveu dar uma exagerada nos seus números!!
Espero a participação de todos!

17 outubro 2005

Bem feito - Parte II

Do jornalista Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo de sábado. Pois é...
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter chances até razoáveis de ganhar as eleições do ano que vem, caso se recandidate, apesar da crise. Não pelas razões que vêm sendo esgrimidas, entre elas a de que a crise se esgotou e o prestígio do presidente sobreviveu a ela.
Primeiro, ninguém pode afirmar que a crise de fato tenha se esgotado. O manancial de documentos ainda em mãos das CPIs não oferece segurança quanto ao que dizem ou contra quem dizem algo.
Segundo, a crise já sangrou profundamente Lula. Há seis meses, pouco mais ou pouco menos, só alucinados diriam que Lula não ganharia a eleição de 2006 no primeiro turno. Há três meses, ainda elegia-se, mas no segundo turno. Hoje, José Serra já supera o presidente ou empata com ele em praticamente todas as pesquisas para o segundo turno.
O fato que me faz desconfiar de que Lula tenha mais chances do que apontaria o sentido comum está dado pela comparação com outros mandatários. Faz ano e meio, José Luis Rodríguez Zapatero elegeu-se presidente do governo espanhol em meio à reação do eleitorado contra a manipulação pelo governo da época das informações sobre os atentados aos trens de Madri.
É um jovem político contra o qual não pesam suspeitas de corrupção. No entanto foi vaiado quarta-feira, no desfile do dia nacional espanhol. Ontem, ao dirigir-se para o jantar da Cúpula Ibero-americana, o carro com a bandeira da Espanha recebeu gritos de "fuera, fuera" de um público de cidade pequena, para o qual governantes, sejam quais forem, costumam ser uma atração turística.
Zapatero é apontado como corresponsável pela aprovação do Estatuto da Catalunha, que a qualifica como "nação", para suprema irritação do resto da Espanha.
Some-se o caso Bush, reeleito há apenas um ano, e tem-se um cenário de muito rápido desgaste dos governantes, em tempos em que tudo é rápido. Menos o desgaste de Lula."

14 outubro 2005

Bem feito pra vocês!

Você que me deixava aqui pregando sozinho o impeachment de Lula, pelo ridículo motivo de que não queria José Alencar como presidente pelo próximo ano (ressalte-se, somente por 1 ano), agora eu digo: bem feito pra você!!
Olhem a pesquisa IBOPE divulgada hoje no Jornal Nacional e vejam: a popularidade de Lula volta a subir, todos os índices de avaliação de Lula também sobem e ele, que perdia pra Serra numa eventual eleição realizada hoje, agora ganha!!
Ou seja, eu estava certo! A chance de acabar com Lula e o PT era há alguns dias atrás, mais especificamente após o depoimento de Duda Mendonça. Tínhamos a faca e o queijo na mão. Mas não, vocês e o resto deste país preferiram deixar assim, "imagina o Alencar assumir(!), melhor deixar o Lula, que ele já tá morto mesmo, ano que vem ele perde certo a eleição".
E eu rebatia, lembrando que brasileiro tem memória curta e que ,se Lula não fosse impeachmado, o PT logo estaria com o discurso de que nada aconteceu, afinal, nada foi provado e nem sequer foi pedido o impedimento do presidente...
Pois bem, agora paguemos todos o preço por este pensamento - desculpem a palavra - burro. Pois tava na cara que Lula ou seria impedido, ou voltaria a crescer. Infelizmente, muitos não quiseram ver isso. E agora Lula é novamente um forte candidato nas eleições do ano que vem, mesmo tendo participado do maior assalto que este país já presenciou.
Culpa de vocês, não minha... Bem feito!

Por que o NÃO passou o SIM

Do Blog do Noblat:
As pessoas jamais haviam pensado a respeito do assunto - a proibição ou não do comércio de armas. E de repente foram pegas desprevinidas com a notícia de que haverá um referendo até o fim do mês. E de que elas terão de votar SIM ou NÃO.

Começaram a prestar atenção na propaganda no rádio e na televisão. E a conversar entre si. A maioria coincide nos seguintes pontos de vista até agora:

* Não existem instituições no país de defesa dos cidadãos - defesa no sentido mais amplo do termo;

* O governo não garante a segurança individual dos cidadãos;

* O cidadãos têm o sagrado direito de comprar uma arma para se defender - mesmo que jamais tenham possuído uma e que jamais venham a possuir;

* É mentira a história de que a maioria dos homicídios é praticada por pessoas comuns e por motivos fúteis;

* Também é mentira a história de que a maioria das armas tomadas dos bandidos pertenceu a pessoas comuns.

Pesquisas de diversos institutos estimam que cerca de 25% dos brasileiros com direito a voto ainda estão indecisos.

12 outubro 2005

Vila dos Smurfs é bombardeada em propaganda da ONU

Do site BBC Brasil:
"O Fundo da ONU para a Infância, Unicef, lançou uma campanha em que os Smurfs, conhecidos personagens de desenho animado, têm sua vila destruída em um ataque aéreo.
A propaganda, que visa angariar fundos para cuidar de crianças que foram usadas como soldados na África, está sendo exibida na televisão da Bélgica, país do cartunista Pierre "Peyo" Culliford, que criou os personagens em 1958.
Um porta-voz do Unicef na Bélgica, Philippe Henon, disse que a idéia de usar os Smurfs dessa forma foi inspirada pela estratégia de chocar as pessoas, usada há muito tempo por publicitários. Segundo ele, a tática está funcionando.
Mas o Unicef determinou que a propaganda deve ser exibida na televisão apenas tarde da noite para não assustar as crianças.
SmurfeteA propaganda de 20 segundos começa com os Smurfs em seu vilarejo, cantando e dançando, junto com pássaros e borboletas.
Mas aviões aparecem em cena e lançam bombas contra o vilarejo, incendiando as casas dos personagens. Uma das personagens, a Smurfete, é morta, enquanto outros correm para se protegerem. Um bebê Smurf é deixado no local das explosões, chorando.
A propaganda termina com a mensagem: "Não deixe a guerra afetar a vida das crianças".
Apesar da propaganda ser exibida exclusivamente na Bélgica, Henon disse que as reações à campanha têm vindo do mundo todo.
"Setenta por cento das pessoas reagiram de forma positiva, mas, é difícil explicar para alguns a razão de estarmos usando estes personagens", disse ele à BBC.
Ele acrescentou que não é fácil convencer as pessoas a ajudarem em campanhas humanitárias, e a Unicef queria mudar isto fazendo uma ligação entre infância feliz e os horrores da guerra.
Em um relatório divulgado em 2004, a ONU afirma que combatentes com menos de 18 anos foram usados em 22 conflitos entre 2001 e 2004.
Esta última campanha do Unicef na Bélgica tenta chamar a atenção dos belgas para a situação no Sudão e também no Burundi e na República Democrática do Congo, duas ex-colônias da Bélgica."


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11 outubro 2005

Videogames

Artigo de Stephen Kanitz, na revista Veja desta semana:

"A favor dos videogames

'Os jogos eletrônicos são uma ótima formade estimular o cérebro da criança, além de ensinar planejamento, paciência, disciplina e raciocínio'

O cérebro humano é um órgão que absorve quase 25% da glicose que consumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar neurônios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma desvantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar.
Todos nós nascemos com muito mais sinapses do que precisamos. Aqueles que crescem em ambientes seguros e tranqüilos vão perdendo essas sinapses, que acabam não se conectando entre si, fenômeno chamado de regressão sináptica.
Portanto, toda criança nasce com inteligência, mas aquelas que não a usam vão perdendo-a com o tempo. Por isso, menino de rua é mais esperto do que filho de classe média que fica tranqüilamente assistindo às aulas de um professor. Estimular o cérebro da criança desde cedo é uma das tarefas mais importantes de toda mãe e todo pai modernos.
Sempre fui a favor de videogames, considerados uma praga pela maioria dos educadores e pedagogos. Só que bons videogames impedem a regressão sináptica, porque enganam o cérebro fazendo-o achar que seus filhos nasceram num ambiente hostil e perigoso, sinal de que vão precisar de todas as sinapses disponíveis. O truque é encontrar bons jogos, mas não é tarefa impossível.
O primeiro videogame que comprei para meus filhos foi o famoso SimCity, um jogo em que você é o prefeito de uma pequena vila, e, dependendo de suas decisões, ela pode se tornar uma megalópole ou não. Se você for um péssimo prefeito, a população se mudará para a cidade vizinha, e fim do jogo. Em vez de eleger prefeitos, seria muito melhor se empossássemos o vencedor do campeonato de SimCity em cada cidade.
Um dia eu estava brincando de "prefeito" quando meus filhos de 11 e 13 anos de idade, analisando meu "planejamento urbano" inicial, balançaram a cabeça em desaprovação: "Tsk, tsk, tsk. Pai, daqui a cinqüenta anos você vai dar com os burros n'água". Eu, literalmente, caí da cadeira. Quantos de nós, aos 11 anos, tínhamos consciência de que atos feitos na época poderiam ter conseqüências nefastas cinqüenta anos depois? Quantos de nós pensaríamos em prever um futuro para dali a cinqüenta anos?
A lição que me deram com o famoso videogame Mario Brothers foi ainda melhor. Não tendo a paciência de meus filhos, eu vivia cortando caminho pelos vários atalhos existentes no jogo, quando novamente me deram o seguinte conselho: "Não se podem queimar etapas, senão você não adquire a experiência e a competência necessárias para as situações mais difíceis que estão por vir". A frase não foi exatamente essa, mas foi o suficiente para me deixar com os cabelos em pé. Dois garotos estavam me ensinando que cada etapa da vida tem seu tempo e aprendizado, e nela não se pode ser um apressado.
No jogo Médico, as crianças aprendem a fazer um diagnóstico diferencial, a pior das alternativas sendo uma apendicite. Nesses casos, elas têm de operar "virtualmente" o paciente seguindo condutas médicas corretas. Um dos procedimentos é a assepsia da pele, e ai de quem não escovar o peito do paciente, com o mouse nesse caso, por três minutos, o que é uma eternidade num videogame e para uma criança. Quem gasta menos do que isso é sumariamente expulso do hospital por erro médico. Que matéria ou professor ensina esse tipo de autodisciplina?
Em A-Train, o jogador é um administrador de empresa ferroviária. A criança tem de investir enormes somas colocando trilhos e locomotivas sem contar com muitos passageiros no início das operações. Aprende-se logo cedo que uma empresa começa com prejuízo social e tem de ter recursos para suportar os vários anos deficitários.
Aos 12 anos, meus filhos já tinham noção de que os primeiros anos de um negócio são os mais difíceis, e controlar o capital de giro é essencial. Avaliar riscos e administrar o capital de giro, nem grandes empresários sabem fazer isso até hoje.
Como em tudo na vida, é necessário ter moderação nas horas devotadas ao videogame. Mas ele é uma ótima forma de estimular o cérebro da criança e impedir sua regressão sináptica, além de ensinar planejamento, paciência, disciplina e raciocínio, algo que nem sempre se aprende numa sala de aula."
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Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

10 outubro 2005

É a economia, estúpido

Texto de Fernando Rodrigues, no jornal Folha de São Paulo de hoje:
"Depois da crise, abulia

Um irmão de Lula é suspeito de traficar influência. O filho de Zé Dirceu pode ter sido beneficiado pelo governo. Não importa. A abulia do brasileiro não tem fim.
A inexistência de reação popular somada à estabilidade e ao crescimento da economia são sinais de que Lula e a maioria de sua tropa não serão punidos - a não ser que o caso do 'mensalão' ressurja pelas mãos e bocas de pobres coitados que assumiram toda a culpa sozinhos.
Até agora, apesar da fartura de indícios do esquema de corrupção envolvendo amplos setores do Congresso e do Poder Executivo, nunca houve manifestação pública de repúdio nas ruas. Ao contrário, teve até ato chapa-branca de estudantes a favor do governo. Enquanto isso, os shoppings e os aeroportos continuam lotados. Como cunhou James Carville nos EUA, 'é a economia, estúpido'.
Na sexta-feira, o presidente da República chamou para dentro do Palácio do Planalto petistas acusados de corrupção. Disse que não eram corruptos. São, na realidade, réus confessos de, no mínimo, terem usado dinheiro ilegal em campanhas eleitorais. O que aconteceu depois dessa atitude tresloucada de Lula? Nada. Um artigo ou outro de jornal e mais nada. É como se o conjunto dos brasileiros sofresse de um processo inesperado, súbito, de afasia.
Nas próximas semanas, os nomes de apenas 13 congressistas serão enviados para julgamento. Alguns vão renunciar. Escaparão da punição. Num sinal de que a política está de ponta-cabeça, o PSDB, em tese o principal partido de oposição, aplaude a eventual onda de renúncias.
Ao final, menos de dez deputados poderão resultar cassados. É um número semelhante ao de 1994, quando a CPI do Orçamento vasculhou esquema muito menor de corrupção.Qual será a reação a esse número restrito de punições? Zero ou quase zero. É o Brasil no seu melhor. Cordialidade dissimulada é a nossa marca. E o nosso maior atraso."

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A famosa frase "É a economia, estúpido", foi proferida, como lembra o texto, pelo assessor de Bill Clinton, James Carville. O cenário era os bastidores de campanha de Clinton, e a equipe toda discutia como atacar Bush pai. Analisavam seus pontos fracos e fortes, como a recente vitória na Guerra do Golfo, de 1991. E, ao tentar descobrir quais fatores poderiam acarretar a derrota de Bush, Carville pontificou: "É a economia, estúpido". De fato, a situação econômica americana não estava nada boa, motivo pelo qual os analistas indicam que Clinton foi vencedor daquela eleição, ainda que Bush pai tivesse na manga o trunfo da vitória no Iraque.
E eu, estúpido, não percebi que isto se estava aplicando a nós, hoje. Perguntava aqui no blog por que ninguém ainda tinha saído às ruas para pedir o impeachement de Lula, mesmo depois de comprovada a maior roubalheira que já se viu nesse país. Ora, os brasileiros estão mais preocupados em lotar os shoppings (tente ir no Iguatemi de Porto Alegre sábado à tarde), ou viajar pelo país a bordo de companhias low cost, low fare - nova coqueluche do país. De fato, não sobra tempo pra sair por aí fazendo passeata!
Collor, que roubou bem menos, caiu porque perdeu apoio popular por ter confiscado a poupança dos brasileiros. Tava na cara. É a economia, estúpido!

09 outubro 2005

Jabuticaba

Tem coisas que, assim como a jabuticaba, só existem no Brasil. Assistindo ao Manhattan Connection neste domingo, deparei-me com um fato no mínimo insolito: de acordo com a legislação elaborada pelo governo brasileiro para o plebiscito do desarmamento, nenhum apresentador de televisão - e pelo visto também nenhum formador de opinião, seja em qual mídia for - pode manifestar-se sobre o plesbiscito em questão!
Mais ainda: Diogo Mainardi quis então falar sobre a proibição, isto é, não manifestar-se a favor ou contra, mas sim falar sobre esta proibição de se emitir uma opinião. E eis que também isto está proibido!
Alguém me avise, por favor, se a ditatura e a censura voltaram, disfarçadas desta peculiar democracia petista à qual temos assistido... Ou me dê um único motivo para uma tal proibição.
Sinceramente, eu não entendo mais nada... O governo do PT é capaz de nos surpreender das maneiras mas diversas. Infelizmente, nenhuma delas positiva...

Pelo "sim" no referendo

Editorial do jornal Folha de S. Paulo deste domingo:
"No próximo dia 23, os eleitores brasileiros serão convocados a responder à seguinte pergunta: 'O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?'. Esta Folha defende o voto 'sim'. Chega a essa decisão, porém, sem nenhum tipo de ilusão.
A proibição não será capaz de conter as ações ousadas de bandidos e associações criminosas. Tampouco restringirá o acesso desses grupos aos armamentos -para tanto, o poder público teria de adotar medidas, como o controle rigoroso das fronteiras, em áreas em que tem falhado.
A eventual vitória do 'sim' mudará pouco em relação às normas em vigência, dadas pelo Estatuto do Desarmamento. Quem tem arma legalizada em casa poderá mantê-la, mas não conseguirá mais adquirir balas. Já as pessoas que pelas regras atuais podem ter porte -policiais, militares e agentes de segurança privada, entre outros- manterão o direito de andar armadas e comprar munição.
Nesse contexto, até a realização do referendo pode ser questionada. Com ele, o Estado gastará algo em torno de R$ 250 milhões para decidir o que o Congresso poderia ter feito sozinho. Perdeu-se ainda a chance de aproveitar a ocasião para levar outros temas a consulta popular.
Apesar das restrições que devem ser feitas ao processo, as vantagens da proibição superam os problemas por ela acarretados. O principal benefício da proscrição está na possibilidade de reduzir alguns tipos específicos de homicídio -aqueles motivados por conflitos interpessoais ou por causas fúteis-, bem como os acidentes com armas de fogo.
Esse ganho seria importante. Na Grande São Paulo, segundo dados da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, 60% dos assassinatos são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por motivos banais, como brigas de trânsito, discussões em bares e outras situações em que o destempero e os efeitos do álcool se associam à existência de uma arma à mão para produzir uma tragédia.
A esse respeito, a campanha do desarmamento, que recolheu mais de meio milhão de armas, já produziu importantes resultados. O Ministério da Saúde informa que os homicídios por armas de fogo caíram 8,2% em 2004 em relação a 2003. Foram de 39.325 assassinatos em 2003 para 36.091 no ano seguinte. É a primeira queda nesse indicador desde 1992.
Reforça a sugestão de que o desarmamento teve impacto na baixa dos homicídios o fato de que, nos Estados em que a taxa de recolhimento de armas foi alta (mais de 150 para cada 100 mil habitantes), o recuo médio do índice de mortalidade foi de 14,5%. Nas unidades em que a coleta foi baixa, a redução média foi de 2%.
A interpretação de que o veto às armas seria limitação abusiva do direito de autodefesa não procede. É atribuição do Estado definir regras para o exercício de certas atividades e fixar requisitos para a concessão de licenças. Se o referendo determinar que o poder público deve restringir a comercialização, circunscrevendo-a às categorias que fazem jus ao porte, não haverá um atentado aos direitos e às garantias fundamentais, apenas mais uma regulamentação.
Aqueles que insistirem ter acesso a armas e munição poderão ingressar num clube de tiro, hipótese em que a lei autoriza concessão de porte. De modo análogo, quem vive em área rural poderá declarar-se caçador e, nesse caso, conservar espingardas de calibre igual ou inferior a 16.
O argumento de que a limitação do comércio gerará grande desemprego tampouco parece razoável. Os grandes consumidores de armas e munições - Forças Armadas e polícias - permanecerão os mesmos. A produção para exportação não será afetada.
O melhor é votar "sim" no referendo. Uma restrição mais forte às armas e às balas, sem contrariar direitos fundamentais, deve contribuir para poupar mais algumas vidas, no que a opção já terá valido a pena."

Não ao desarmamento

Artigo do historiador Sérgio da Costa Franco, no jornal Zero Hora deste domingo:

"É certo que Caim não aguardou a invenção das armas de fogo para matar seu irmão Abel. E também não consta que, em 1572, no dia de São Bartolomeu, os católicos franceses que assassinaram alguns milhares de protestantes tenham feito uso de pistolas Luger ou de revólveres Colt. O ânimo de matar os semelhantes antecipou-se de séculos à invenção do arcabuz, da espingarda ou de fuzil automático.
A propósito do próximo plebiscito em que o eleitorado deverá opinar sobre o comércio de armas de fogo e munições, fui revisar meu arquivo e procurar notas relativas às dezenas de sessões do júri em que acusei homicidas dolosos. E apesar de incompletos os dados, cheguei à conclusão de que metade dos réus não utilizaram revólveres ou pistolas em suas ações agressivas, e sim facas, facões, foices, machados e até pedras. O episódio mais chocante que relembro foi o da Tia Pequena, velhinha assassinada no interior de Soledade: os sicários derrubaram a vítima sobre uma rocha e lhe esmagaram a cabeça a golpes de pedra. Outro homicídio cruel com que deparei foi o de um rapaz que assassinou o pai, enquanto este tomava na cozinha seu chimarrão matinal: um machado foi o instrumento desse parricídio. Lembro-me até de uma tentativa de homicídio, autor o marido e vítima a mulher, em que o instrumento da agressão foi um vulgar tijolo... Na zona rural, parece-me, o facão Três Listras, a adaga gaúcha e a peixeira nordestina fazem mais dano que os revólveres Taurus...
Pela própria experiência de promotor de justiça, não posso admitir a suposta eficácia dessa lei do desarmamento, com endereço específico às armas de fogo, quando é certo que os meios de ação letal são os mais variados, e alguns deles muito mais temíveis. O próprio legislador penal cominou pena mais grave para o homicídio quando haja emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, em clara demonstração de atribuir dolo mais intenso aos agentes que optam por tais meios insidiosos ou cruéis.
Só vejo entusiasmo pela proibição de armas de fogo entre poetas e ficcionistas que nunca operaram profissionalmente na repressão à criminalidade. E, evidentemente, entre pessoas de inclinação subversiva, solidárias com expropriações e invasões de propriedades. Para esse efeito, nada melhor que desarmar previamente os fazendeiros e seus auxiliares, privando-os da possibilidade de resistência. Como o MST ataca de foices e facões, a romântica lei do desarmamento não afeta em nada a violência de suas ações expropriatórias. E, ao revés, enfraquece as vítimas dos Setembros Vermelhos e outras operações daquela milícia agrária disfarçada em movimento social.
O povo está sendo chamado a opinar não ou sim ao comércio de armas e munições. É um momento importante para o exercício da democracia direta. E sinceramente espero que a cidadania não desperdice a oportunidade de reafirmar um velho direito seu à legítima defesa da vida e dos bens. Nos instantes de perigo (e presentemente o perigo é uma constante), todo cidadão é soldado.
Não chegamos a assumir o ânimo libertário dos fundadores da democracia americana, que inseriram em sua declaração de direitos, em 1789, o princípio genérico de que "não será violado o direito do povo de manter e portar armas". A modernidade restringiu e limitou muitas liberdades básicas, inclusive a do porte de armas. Mas não é isso que está em discussão. O que apenas se pretende é que os meios de defesa pessoal não sejam privilégio dos malfeitores. E que o comércio lícito possa atender às necessidades do cidadão honesto."

05 outubro 2005

Enquetes

Acho que tem gente que entra no blog e prefere não votar, ou tem gente mentindo que entra no blog mas não entra... Há bem mais do que 15 ou 16 pessoas que acredito entrem regularmente neste site. Então como explicar o número de 15 votantes na enquete anterior, e 9 na mais recente?
Gostaria que os leitores dessem sua opinião, muito importante para enriquecer este espaço.
Sobre as enquetes
A enquete sobre o governo Lula terminou assim:
Você é a favor do impeachment do presidente Lula?
Sim: 60%
Não: 40%
Na enquete atual, um fato interessante. O resultado parcial é exatamente idêntico ao registrado até este momento no Blog do Noblat (maior e melhor blog de notícias políticas do país): 67% contra e 33% a favor do desarmamento!
Ou seja, mesmo com poucos votantes, estamos conseguindo ter uma idéia fiel do que pensam os internautas de plantão.
Aliás, para quem ainda não conhece ou não acessou o site do Noblat, a entrevista da revista Playboy deste mês de outubro será com ele. Bela oportunidade para conhecê-lo e a suas idéias. E ótima desculpa para as esposas e namoradas para chegar em casa com a revista embaixo do braço!