Esquerdização?
Clóvis Rossi, na Folha de hoje:
De direitos e respostas
"Depois de alguns brucutus que ocuparam a subsecretaria de Estado para assuntos hemisféricos (na prática, as relações com a América Latina), o novo titular, Thomas Shannon, parece ter uma boa compreensão do que se passa no antigo (ou ainda?) quintal dos EUA.
Em vez de ver uma "onda esquerdista", que provoca urticária em tantas epidermes brasileiras e latino-americanas, Shannon diz, conforme relato do correspondente Sérgio Dávila na Folha de ontem, que foi a falta de resposta aos direitos da população a responsável pelo "surgimento de um novo populismo, especialmente na zona andina".
Ainda acrescentou, também corretamente, que, ao contrário do populismo do passado, a nova safra "leva consigo um certo nível de ressentimento social, o que é preocupante".Por partes, o que Shannon está dizendo é:
1 - Foi o fracasso das políticas ditas neoliberais ou propiciadas pelo Consenso de Washington o responsável pela ascensão de todos os governantes, digamos heterodoxos, que pipocaram na América Latina nos últimos anos.
Assim como o sentimento da maioria do eleitorado de que FHC fracassara ou desencantara fabricou Lula, o fracasso dos partidos venezuelanos tradicionais fabricou Chávez. A listagem poderia prosseguir ao infinito.
Não é, portanto, que o tal de povo latino-americano tenha virado da noite para o dia comunista, marxista, socialista, populista ou que "ista" você preferir. Não. Faltou "resposta aos direitos da população", na interpretação de Shannon, que pode ser tudo, mas de esquerda com certeza não é.
2 - Conseqüência natural da falta de respostas: ressentimento. Preocupante, como diz Shannon, mas explicável. Evo Morales e Hugo Chávez buscam respostas de uma forma, Lula, de outra, Kirchner, de outra. Preocupante mesmo será se caminhos diferentes derem em nada, como no passado recente e não tão recente."