03 junho 2005

Portugal, França e Árabes

Vou colocar aqui uma discussão recente entre amigos, a respeito da influência e grandeza de Portugal. Acho que ilustra bem o desconhecimento que nós ocidentais temos acerca do mundo árabe....

Mensagem inicial - Por Marcelo M.O.

"Lembro a todos que o Império Português é responsável por feitos extremamente importantes para toda a humanidade. A expansão das fronteiras no mundo no século XVI e a integração sócio-econômica dos continentes foram contribuições sem precedentes e ainda não desbancadas na história. Visto as sequentes expansões territoriais do homem não surtiram nenhum efeito nas relações de comércio globais, de nada serviu a ida dos norte-americanos à Lua nem as demais infrutíferas e ridículas expedições ao cosmos.

Nossa (RÁ !) supremacia naval do planeta na época foi muito mais significante que o poderio bélico atrapalhadamente exercido hoje pelos EUA. O domínio tecnologias de posicionamento global e a perícia cartográfica da temida Armada Portuguesa, foram mais revolucionários e determinantes que o atual GPS e outros sistemas da patética NASA.

E, finalmente, o poder desta "medrosa" Alteza Real, o Rei, Chefe da Casa Real Portuguesa, manteve um Império que abrangia quase todo mundo conhecido na época, incluindo parte da Europa, e as principais rotas de comércio por alguns séculos, gerando uma riqueza que existe até hoje."

Resposta - Alexandre

"Aacho que o Marcelo se precipitou.... Só pra começar, poderíamos contrapor o argumento dele, afirmando que as grandes navegações portuguesas não teriam talvez sido tão grandes sem o auxílio dos instrumentos inventados não por eles, mas sim pelos muçulmanos..... Ou então dizer que afirmar que os portugueses dominaram quase todo o "mundo conhecido" de então é no mínimo esquecer que este mesmo mundo foi "dividido" entre portugueses e espanhóis, através do famoso Tratado de Tordesilhas, de 1494 - o que leva à conclusão de que no máximo dominaram "metade do mundo conhecido", o que já é uma afirmação bastante exagerada... Indo mais longe, também posso dizer que a tal riqueza que o nobre Oliveira afirma existir até hoje em Portugal talvez tenha sido fruto não tanto deste comércio mundial tão propalado, mas talvez daquilo que veio a ser conhecido por metalismo (ou bulionismo) - crença, à época, na qual se afirmava que a riqueza do país era medida pela quantidade de metais preciosos que este possuísse, o que levou a que os portugueses "saqueassem" os metais preciosos da América, visando um enriquecimento; ou seja, o dinheiro "arrecadado" de forma não tão nobre na América é que talvez tenha sido o grande impulsionador da riqueza de Portugal....

Estes são meus pequenos apontamentos acerca da História, ainda que eu deixe claro que não nego a importância de Portugal na história mundial!"
Réplica de Marcelo
"Mesmo assumindo a hipótese que o desenvolvimento das citadas tecnologias de posicionamento global no século XV e XVI tenha sido mérito dos mulçumanos, ressalto que a aplicação produtiva e eficiente das mesmas foi na mão dos entrépidos exploradores portugueses. Enquanto os mouros guiavam camelos no Saara, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral faziam a História.

Também lembro, jovem acadêmico, o motivo que levou o Rei de Castella, Leon y Aragón a arriscar e investir no financiamento da missão do genovês Colombo foi a busca já desesperada de uma nova rota de comércio com o Oriente, dada a pujante supremacia lusitana. Naquela época o mundo conhecido se resumia à Europa, África e Ásia, e estes continentes e mares adjacentes foram dominados pela Marinha Real Portuguesa que controlava e protegia as telecomunicações e logística das linhas comerciais marítimas, envolvendo bases estratégicas desde a costa africana até o longínquo Japão. A Espanha obteve a "outra metade" do mundo apenas após a chegada de Colombo às supostas Índias em um golpe de sorte, pois realmente não sabiam onde estavam. Mesmo assim, para evitar confronto com a potência do Império de Portugal, Beiras e os Algarves, covardemente cederam parte do território descoberto no citado Tratado de Tordesilhas.

Prosseguindo, algumas características do fenômeno econômico do Metalismo, onde visava-se entesourar a maior quantidade de ouro e prata possível como reserva de divisas, persistiram final do século XX. Todos os sistemas financeiros e de fidúcia que surgiram na Europa durante Idade Moderna utilizavam o padrão-ouro, que só foi rompido na década de 70, no Tratado de Brenton Woods. Assim, os Conselheiros Reais portugueses, economistas da época não estavam equivocados em extrair e estocar os tais metais encontrados nos territórios do Império. Não houve saqueamento algum, e sim uma transferência de riquezas. E para não deixar dúvida nem talvez, este era o modelo econômico da época onde se destacaram a competência e a força da Casa Real Portuguesa, da qual seus súditos colhem frutos até hoje.

Já que pediram: outros reinos e impérios que sucederam o português foram efêmeros ou tiveram derrocadas vergonhosas que sequer podem ser comparados à saga e herança portuguesa. Talvez o Império Britânico tenha valor, mas deve muito ao aprendizado e suporte de Portugal. A Alemanha/Prússia, reconhecidamente povos bárbaros - no mal sentido, porcamente dominaram a Europa (nunca tocaram na Grã-Bretanha) por 6 anos e foram atropelados no final da II Guerra. Os italianos, como decendentes de cultura Roma, são desastre, com severos problemas de administração, sendo invadidos até por Pracinhas brasileiros. Os franceses quando liderados por Napoleon Bonaparte tiveram alguns êxitos mas sem resultados práticos, pois nada contribuiram a economia mundial. Após isso, mal conseguiram garantir suas fronteiras assintido um desfile nazista em Paris e dependendo dos patéticos norte-americanos para sua libertação.

Assim, escrevendo no idioma disseminado pela cultura portuguesa, peço a todos que saúdem a tradição lusitana em memória dos seus grandes feitos à civilização."
Tréplica de Alexandre
"1. Os muçulmanos não estavam só guiando camelos enquanto os portugueses “faziam história”; esta imagem deve-se à ignorância ocidental acerca do mundo muçulmano, INFINITAMENTE mais desenvolvido que o mundo cristão até o século XVI...

2. Se a Espanha descobriu as suas rotas por “sorte”, também foi sorte dos portugueses ter aparecido um italiano para descobrir a América pra eles...

3. Os espanhóis não cederam “covardemente” parte do território americano aos portugueses. Favor estudar a desonestidade portuguesa em razão do Tratado de Madrid, de 1750.

4. “Transferência de riquezas” é algo tão falso quanto a invasão americana ao Iraque sob o pretexto de levar democracia ao Oriente Médio. Foi saque mesmo, como é saque agora.

5. Outros reinos ou impérios foram, sim, efêmeros. Mas também o português o foi! Ou ainda hoje Portugal é uma potência? As navegações começam no final do séc. XV, e, do séc. XVIII em diante, o que se vê é supremacia inglesa, seguida pela francesa, seguida pela prussiana, austríaca... Portugal não foi exceção!

6. Louvo o idioma de Camões e Fernando Pessoa. Mas o mundo de hoje deve mais à influência francesa (código civil napoleônico, hábitos, costumes), por exemplo, do que à portuguesa... Ao menos são maiores os vestígios claramente percebidos nos dias de hoje...

7. Portugal foi, óbvio, uma grande potência, a seu tempo. Inegável. Irrefutável. Mas não a superestimemos!"
Nova resposta de Marcelo
"Vamos lá:

1. Se eles não estavam guiando camelos, o que faziam ? Temos algum país muçulmano economicamente avançado ? Só têm destaque quando jogam dois Boeings contra NY ou em mais um atentado à bomba;

2. Contra o acaso não tenho argumentos. Imagino quantos outros irreponsáveis aventureiros o Rei Felipe de Aragón y Castella financiou de Colombo. Deve ter sido por tentativa e erro. E os navegadores devem ter estudado na consagrada Escola de Sagres, no Algarve;

3. Esta é uma avaliação subjetiva tua. Trocaria a expressão desonestidade por astúcia.

4. O Iraque é uma nação soberana. Os as forças lideradas pelos EUA apenas derrubaram o governo. Os motivos podem ser criticados, mas o Iraque ainda é um país. O Brasil, na época, fazia parte do extenso Império Português. Assim, não foi saque. E não vem com esse papo que o ouro pertencia aos índios... Que tal devolvermos tudo agora para eles ? Os portugueses atravessaram o Oceano Atlântico em 1500 enquantos estes índios comem insetos até hoje;

5. A saga de supremacia global portuguesa durou séculos e e mudou a geografia da época. Já citei o meu respeito pelo Império Britânico. Quanto aos franceses, realmente influenciaram os costumes e a estrutura da sociedade, mas me indique literatura sobre o desconhecido Império Francês. Aproveita e manda também sobre o Prussiano e Austríaco.

6. Consideremos um empate no quesito influências entre França e Portugal;

7. Portugal foi sim um grande Império."
Colocação feita por David G.B.
"Há uma unanimidade entre os historiadores quanto à questão de a Conquista de Ceuta ser o início da expansão portuguesa. Foi uma praça conquistada com relativa facilidade, por uma expedição organizada por D. João I, em 1415.
O
Infante D. Henrique é quem promove os Descobrimentos Portugueses.
Paralelamente, há um outro projecto assinado como um projecto nacional - o norte de
África. Este projecto era um projecto prestigiado pela coroa portuguesa, pois tratava-se de conquistar, de fazer guerra. Após a Conquista de Ceuta, segue-se o desastre de Tânger, em 1437, com a derrota portuguesa. Segue-se um conquista de uma série de praças: Alcácer Ceguer, Arzila, Tânger, Azamor, Safim, Mazagão.
Ainda durante o reinado de
D. João I, e sob comando do Infante D. Henrique dá-se o redescobrimento da Madeira, uma expedição às Canárias em 1424 e o descobrimento dos Açores.
O redescobrimento da
Madeira dá-se em 1419/20. Em 1419 a ilha de Porto Santo foi redescoberta por João Gonçalves Zarco e em 1420 a ilha da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de um redescobrimento porque já havia conhecimento da existência das ilhas da Madeira no século XIV. Isso é-nos revelado na cartografia do século XIV. Em 1424 inicia-se a colonização da Madeira.
Em
1427, inicia-se o descobrimento do arquipélago dos Açores. Nesse ano é descoberto o grupo oriental dos Açores (São Miguel e Santa Maria). Segue-se o descobrimento do grupo central (Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial). Em 1452 o grupo ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por João de Teive.
Na regência de
D. Duarte, Gil Eanes dobra o Cabo Bojador em 1434. A partir daqui, o Infante D. Henrique promove o descobrimento da costa africana, por sua própria iniciativa, sem intervenção da coroa, até 1460.
Já na regência de
D. Afonso V, em 1441 Nuno Tristão chega ao Cabo Branco, em 1443 a Arguim e em 1444 à Terra dos Negros.
Em
1444, Dinis Dias descobre Cabo Verde e segue-se a ocupação das ilhas ainda no século XV, povoamento este que se prolongou até ao século XIX.
Em
1445, António Fernandes chega a Cabo dos Mastos.
Em
1460, Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Neste mesmo ano falece o Infante D. Henrique.
A missão antes comandada pelo
Infante D. Henrique vai parar às mãos do Infante D. Fernando. Em 1469, D. Afonso V entrega esta missão a um mercador da cidade de Lisboa, Fernão Gomes.
Em
1471, inicia-se o descobrimento do arquipélago de São Tomé e Príncipe. Em 21 de Dezembro de 1474, João de Santarém descobre a ilha de S. Tomé. Pêro Escobar descobre a 17 de Janeiro de 1475 a ilha do Príncipe. A ilha de Ano Bom é descoberta já no reinado de D. João II, em 1 de Janeiro de 1405, hipoteticamente por Diogo Cão.
Em
1472, Gaspar Corte Real descobre Terra Nova, e em 1473 Lopes Gonçalves ultrapassou o Equador.
Desde 1474/75 o príncipe D. João, futuro rei, fica responsável pela tarefa dos descobrimentos. Este sobe ao trono em 1482. Nesse mesmo ano organiza a primeira viagem de
Diogo Cão. Este faz o reconhecimento de toda a costa até à região do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão, leva a cabo uma segunda viagem estendendo-se até à Serra Parda.
Em
1487, Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três caravelas, atinge o Cabo da Boa Esperança.
Face à chegada de
Cristóvão Colombo em 1492 à América, segue-se a promulgação de três bulas papais - as Bulas Alexandrinas - que concediam ao reino de Espanha o domínio dessas terras.
Será esta decisão de
Alexandre II que irá vingar. Face a isso, D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem a intervenção do Papa. Assim, em 1494 é assinado o Tratado de Tordesilhas: o Mundo é dividido em duas áreas de exploração: a portuguesa e a espanhola. O mundo seria dividido em função de um semi-meridiano que deveria passar a 370 léguas de Cabo Verde - "mare clausum".
No reinado de
D. Manuel I, parte do Restelo, a 8 de Junho de 1497, a armada chefiada por Vasco da Gama. Tratava-se de uma expedição comportando três embarcações. É a partir da viagem de Vasco da Gama que se introduzem as naus. A 9 de Maio de 1498 Vasco da Gama chega a Calecute.
Em 1500, parte a segunda expedição para a
Índia comandada por Pedro Álvares Cabral. Era uma expedição composta por três embarcações. Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de Cabo Verde, desvia-se da rota e em Abril de 1500 chega a uma terra denominada Ilha de Vera Cruz, mais tarde Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil - face à abundante existência de madeira pau-brasil. Pedro Álvares Cabral chega a Calecute em 1501. Ocorrem alguns confrontos com o Samorim, com o qual Pedro Álvares Cabral acaba por romper relações. Assim, dirige-se para Sul e estabelece uma feitoria em Cochim.
Ainda durante o reinado de
D. Manuel organiza-se uma terceira armada à Índia, comandada por João da Nova.
Em
1501, envia-se a segunda armada para o Brasil.
Em
1514, Jorge Álvares atinge a China.
No reinado de
D. João III (1521-1557) a partir de 1534 inicia-se a colonização do Brasil com a criação das primeiras capitanias.
Em
1557 os Portugueses estabelecem-se em Macau."
Resposta de Alexandre
"Acho que vocês não estão me entendendo.....

Eu em nenhum momento afirmei que Portugal não foi importante... Apenas afirmei, e afirmo novamente, que o Marcelo está superestimando – e muito – a importância que ele desempenhou e continua a desempenhar na história.

1. Não foi – com absoluta certeza – mais importante que a França, no que deixa de vestígios para hoje.

2. Como todos os outros grandes, teve duração durante certo tempo, após o qual perdeu sua força. Não foi exceção.

3. Marcelo, se tu não conheces a importância dos muçulmanos na história, demonstras imensa ignorância, ainda que desculpável, pois não és o único. O fato de hoje não existir nenhum país muçulmano importante pode ser visto nas obras “Uma história dos povos árabes”, de Albert Hourani, ou “O Oriente Médio”, de Bernard Lewis. Mas continuar afirmando que eles não foram importantes é burrice mesmo. Leia também “As cruzadas vistas pelos árabes”, de Amin Maaluf. Fará bem à tua total desinformação acerca deste povo.

4. David, parabéns por teres pesquisado! A pesquisa está ótima e perfeitamente correta. Espero ao menos que tenhas lido!! Acredito ser a primeira vez que tu te proporcionas um momento de cultura como este....

5. Marcelo, mais uma vez tu: acho que um pouco de estudos sobre antropologia também te faria bem, pois estás demonstrando ignorância, novamente, quando fala dos índios....

6. Ainda não entendi de onde tu afirmas tão tranquilamente que o Brasil pertencia ao Império Português, que isso está correto e que os índios não eram os verdadeiros donos do território, e quais são teus critérios para tal afirmação... De novo, deves estudar antropologia...

7. A saga da supremacia lusa durou séculos, sim, e mudou a geografia do mundo! Perfeito. Como também duraram séculos o Império Romano e outros tantos outros... Aliás, já que tu utilizas os dias de hoje como modelo, quando falas dos muçulmanos, me diga: qual a importância de Portugal hoje????????

8. Os costumes atuais são baseados naqueles franceses. O Código Civil Napoleônico inspirou e inspira até hoje o mundo todo. Os conceitos de política (esquerda e direita, e outros tantos outros) provêm da Revolução Francesa; Os primeiros economistas (os fisiocratas) são franceses. A França já foi o centro da diplomacia mundial, assim como também o foi a Áustria, no início do século XIX (favor estudar Metternich). Os autores franceses do século XVIII e XIX são considerados os maiores, junto com os Russos. Por favor, não compare a influência portuguesa com a francesa, essa comparação é descabida.

9. Afirmo pela última vez que não estou negando a importância lusa para a história mundial, de ontem e de hoje. Mas a estás superestimando, é só isso que eu gostaria de deixar claro... "

2 comments:

Blogger Alexandre G. Barreto said...

Reprodução de texto do economista Cláudio de Moura Castro, na Veja do dia 8 de junho de 2005.

"Herdamos a tradição portuguesa de um ensino que conseguia ser ainda mais débil do que o espanhol. O que recebemos de Portugal foi a herança de sua própria educação mirrada e medíocre, muito mais do que uma política de conter o desenvonvimento do nosso ensino".

06 junho, 2005 16:27  
Anonymous Anônimo said...

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