10 novembro 2005

Watergate, Garganta Profunda, Dinheiro e CPIs

Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:

" 'Follow the money', 'Siga o dinheiro', é uma das frases mais repetidas e mais festejadas do jornalismo investigativo dos últimos 30 anos.
Foi a sugestão do famoso 'Garganta Profunda', o agente do FBI americano que se tornou a principal fonte de uma das mais importantes investigações políticas dos tempos modernos, o hoje clássico escândalo Watergate, que terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, para escapar de um processo de impeachment pelo Congresso americano.
Nixon sofreria o impeachment porque mentiu ao povo americano, ao afirmar publicamente que não sabia de nada do que os membros do seu partido e do seu governo fizeram contra a lei. Mentiu ao povo americano quando grampeou conversas da oposição sem autorização da justiça e, quando confrontado com o fato, mentiu de novo.
Mentiu também sobre as relações mais do que delicadas entre altos funcionários de seu governo e práticas econômico-financeiras prá lá de esquisitas.
Finalmente, Nixon caiu porque não entendeu a diferença entre público e privado, porque aparelhou a Casa Branca e o governo americano com jovens militantes do Partido Republicano, doidos para implantar na administração pública americana uma tal de 'economia de mercado'. Os waldomiros da década de 70 nos Estados Unidos.
Não foi só Watergate que derrubou o presidente do país mais poderoso do mundo. A captura da administração pública dos Estados Unidos por um grupo do Partido Republicano, interessadíssimo em fazer negócios, foi parte importante do caminho que levou à desgraça de Richard Nixon.
O mais curioso é que o escândalo Watergate não foi suficiente para impedir que Ricard Nixon fosse reeleito. Reeleito foi, mas não conseguiu governar, vergado sob o peso das gravíssimas denúncias que se confirmavam, dia após dia. Reeleito em novembro de 1972, Richard Nixon renunciou em agosto de 1974.
Já no Brasil, nesta semana, a CPI dos Correios está começando a chegar à ponta do fio da meada da corrupção no governo e nos partidos aliados, ao aparelhamento do Estado, à compra do apoio de bancadas para os projetos do governo.
Enquanto isso, membros da CPI têm seus telefones grampeados e suas vidas vasculhadas, Deus-sabe-lá-por-quem.
Tudo isto porque as investigações na imprensa, na Polícia Federal, no Ministério Público, ou nas várias CPIs, decidiram adotar o conselho de Garganta Profunda: 'Siga o dinheiro'."
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P.S. Para quem se interessar pelo assunto, há ótimas oportunidades: uma delas é o filme "Todos os homens do presidente", com Dustin Hoffman e Robert Redford, um verdadeiro clássico e que mostra o famoso episódio do Watergate. Há, também, o livro "O homem secreto", de Bob Woodward, que foi o repórter do Washington Post que, com a ajuda do Garganta Profunda e de seu colega Carl Bernstein, desvendou o episódio que culminou com a queda de Nixon. Mais ainda, tem o filme "Nixon", com Anthony Hopkins (pra mostrar que também grandes atores fazem grandes filmes, e não só aquelas porcarias cheias de explosões e tiros).
Ah, por fim, cabe ressaltar que neste ano de 2005, o Garganta Profunda revelou sua identidade: trata-se de um ex-agente do FBI, Mark Felt, que até então havia guardado segredo sobre sua identidade (a reportagem pode ser encontrada no site da revista Vanity Fair). Era isso.