01 novembro 2005

Sobre livros

De Moacyr Scliar:

Livro versus computador

"Recentemente passei por uma experiência para mim tão rara quanto difícil. Eu precisava fazer a resenha de um livro. Nenhum problema nisso; tenho feito muitas dessas resenhas. Acontece, porém, que se tratava de uma tarefa urgente e para ganhar tempo o pessoal da editora mandou-me o texto por e-mail.
Ora, ler por e-mail é, convenhamos, algo no mínimo cansativo. Quando é uma mensagem, uma notícia, um artigo não muito longo, tudo bem. Mas cento e tantas páginas é dose. Para começar, a leitura não se faz da esquerda para a direita, como é hábito na cultura ocidental, mas sim de cima para baixo. Não há páginas; há uma seqüência contínua, que deve ser desenrolada. Vocês vão me dizer que antigamente os textos também vinham em rolos (de pergaminho), e é verdade, mas foi exatamente por isso que surgiu o livro.
Que é, antes de mais nada, um objeto prático. Tanto que conserva praticamente a mesma forma desde que Gutenberg inventou a prensa com tipos móveis no século 15. O livro, ao contrário do computador (e não me venham com o exemplo do laptop) é um objeto portátil. Pode ser levado para a poltrona, para a cama, para o banheiro. O livro não precisa eletricidade nem baterias. O livro não tem motor com barulhinho chato. O livro não produz aquela pálida luminosidade que acaba cansando os olhos. O livro é quieto; fica na prateleira, à nossa espera, pelo tempo que quisermos. O livro está sempre à nossa disposição, sem ser necessário ligá-lo.
O livro permite anotações. O texto computadorizado também, argumentarão vocês. Verdade, mas as anotações que fazemos em livros têm a nossa caligrafia, refletem melhor a nossa emoção. Uma das coisas que me agradam nos livros usados é exatamente isso, as anotações de seus antigos donos, às vezes feitas em priscas eras e que representam uma espécie de comunicação própria da irmandade de leitores.
Claro, o livro tem seus problemas. As páginas ficam amarelas pelo tempo (nós também). Os livros atraem traças, esses intelectuais insetos. E os livros ocupam espaço, coisa escassa nos pequenos apartamentos de hoje. Em muitos casos, enciclopédias por exemplo, o texto computadorizado já se impôs. Mas no que se refere à ficção, à poesia e a outros gêneros, não é uma coisa ainda decidida. Os amantes do livro podem ser passadistas, mas são fiéis. A Feira do Livro que o diga."

1 comments:

Anonymous Anônimo said...

Os livros sao muito bem projetados para otimizar a leitura. Boas editoras tem padrao no número de caractéres por linha e números de linha por página, assim como na escolha da fonte e espacamentos.

01 novembro, 2005 14:04  

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