08 agosto 2005

Presidente Jatobá

Artigo de Clóvis Rossi, na Folha de S. Paulo da última sexta-feira.
Não é inimputável

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comporta-se como se fosse inimputável. Não é. Sua história de vida, sua origem pobre, a educação que diz ter recebido dos pais, o cargo que ocupa -nada disso o faz melhor do que qualquer outro cidadão brasileiro.
Por isso, teria que dar o exemplo quando fala de pedir desculpas a quem é injustamente acusado. Lula, para ficar só no mais folclórico dos exemplos, disse que havia "300 picaretas" no Congresso Nacional, sem oferecer a mais leve prova. Pediu desculpas? Não. Ao contrário, ao chegar ao governo, juntou-se a eles, o que, aliás, é uma das origens de seus problemas atuais.
Presidente da República, mais que qualquer outro, deve explicações ao público. Deve, por exemplo, explicar a estranha associação entre seu filho e a Telemar, até para que fique claro que soube dar aos filhos a educação que diz ter recebido dos pais.
Deve, por exemplo, enfrentar sua responsabilidade na "tragédia" de seu partido, o PT ("tragédia" é expressão de José Dirceu, que se considera emblemático do partido).Lula foi um dos criadores do partido, foi seu presidente ("por apenas três anos", foge agora), é seu símbolo, foi seu único candidato presidencial em todas as quatro eleições havidas desde a fundação do PT. Não pode, portanto, se considerar inimputável pelos "erros" cometidos por seus dirigentes (expressão também dele próprio, de Dirceu e do novo presidente petista, Tarso Genro).
Não dá para se considerar inimputável quando a quase totalidade dos envolvidos com a dinheirama de Marcos Valério é do PT e da base aliada de seu governo.Por fim, cabe lembrar que o "vão ter que me engolir", além de muito abaixo da dignidade do cargo, é de mau agouro. Quem o inventou foi o técnico Zagallo, em 1997. Acabou engolido em 1998 (por Zidane e cia.) e por Felipão na Copa seguinte."