03 agosto 2005

Livro da Semana: A Revolução dos Bichos

Nestes tempos de crise da esquerda, sinto-me obrigado a indicar esta obra-prima de Gerge Orwell. Ele é o mesmo autor do clássico 1984, que criou a idéia do Grande Irmão (Big Brother), aquele que tudo vê e controla, como um modelo de sociedade totalitária. Como se vê, este brilhante e consagrado autor é avesso a totalitarismos e autoritarismos, como todos deveriam ser (há uns e outros que maculam seus verdadeiros ideais em torno de uma suposta democracia socialista, que até hoje só sobreviveu de forma ditatorial...). Bem, mas vamos ao livro. Mais uma vez opto por indicar um livro pequeno (96 páginas). É talvez a prova de que livro não precisa ser grande para ser bom.
Orwell conta a história dos animais de uma fazenda, que percebem a vida indigna a que são submetidos: são explorados pelos homens, em troca de um salário (ops, ração) miserável. Liderados pelos porcos, criam uma revolução, expulsando os fazendeiros da propriedade e criando um Estado no qual os bichos seriam todos iguais, pondo fim então à exploração do bicho pelo homem.
Todavia, com o tempo, o grupo dos porcos - os idealizadores desta Revolução - começam a se tornar "superiores" aos demais bichos; proclamam-se dirigentes da revolução, invocam-se determinados privilégios (em nome da preservação do ideal revolucionário e igualitário), e promovem, por fim, a exploração do bicho pelo bicho!
Quem já percebeu a semelhança com o socialismo não está enganado! Esta obra, publicada em 1945, foi logo interpretada como uma sátira sobre os descaminhos da Revolução Russa (quando os bolcheviques tomam o poder e fuzilam a família do Czar). Ela faz de fato uma dura crítica ao totalitarismo soviético, e aplica-se em qualquer grau às demais experiências socialistas que o mundo já presenciou: ao longo da obra, a informação e o acesso a ela é sempre manipulado e controlado (alguém aí pensou em Fidel Castro?); frases ditas ontem são desmentidas hoje (Partido dos Trabalhadores, no Brasil?).
Enfim, é uma mostra do fracasso da idéia socialista, ilustrada magistralmente no parágrafo final, no qual os porcos começam a se comportar como homens (aqueles mesmos, que eles haviam expulsado, e aos quais diziam nutrir aversão), chegando mesmo a se reunir com eles para beber e jogar (alguem pensou agora em Josés Dirceus e Lulas tomando Romanée Conti e usando MontBlanc, símbolos máximos do capitalismo que até ontem eles odiavam?):
"Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco".

2 comments:

Blogger Alexandre G. Barreto said...

Apenas para concluir, com a frase atribuída a Millôr Fernandes:
"O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. E o socialismo é o contrário". Brilhante!

03 agosto, 2005 10:49  
Anonymous Anônimo said...

A historia sempre se repete, incrivel!

04 agosto, 2005 10:22  

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