10 agosto 2005

Grandeza de espírito

Igor Gielow, na Folha de S. Paulo de segunda-feira:
Grandeza de espírito

"Tal e qual um buraco negro, de onde nada escapa, nem a luz, a crise atual está tragando toda a classe política brasileira. O presidente Lula e seu governo que desapareceu são apenas as vítimas mais vistosas.Logicamente os políticos poderão contar com a enorme massa ignorante, que continuará votando por gravidade nesse ou naquele candidato. Valeriodutos, propinodutos e outros dutos seguirão, com maior ou menor grau de sofisticação, a irrigar campanhas, bolsos e cuecas.
Talvez isso garanta o show para 2006, mas é inescapável constatar que os políticos estão feridos de morte. É difícil imaginar qual discurso vai colar no ano que vem para os estratos mais esclarecidos da população que não têm interesses muito maiores que conseguir pagar as contas do fim do mês.
Os ricos, esses já estão satisfeitos: passaram sua lista de Natal para Lula na sexta. Atendidos, Lula pode se dizer Antônio Conselheiro encarnado, num desses discursos ensandecidos que faz, e tudo estará bem.
As opções não ajudam. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso praticamente pediu o impeachment de Lula ontem em "O Globo". Acusou-o, ao não aceitar sua "sugestão" de descartar a reeleição, de faltar com "grandeza de espírito".
FHC não tem autoridade para tais colocações. Passou oito anos ignorando quem as fazia. A diferença entre ele e Lula é que sua gestão política era superior à dos amadores do PT, então os escândalos eram melhor administrados -e abafados. Ou alguém aqui acha que os tucanos e pefelistas financiam suas campanhas vendendo camisetas?
O esquema atual só está sendo colocado a nu porque Lula não soube fazer política congressual. Como comparação, a articulação de FHC deixou sem respostas dúvidas gravíssimas sobre as privatizações.
Não que isso isente Lula. Nem de longe, e a lista de perguntas a responder é grande: empréstimos estranhos, dinheiro para Duda. Mas ajuda a criar uma perspectiva desoladora."