12 agosto 2005

Crônica da morte

Do jornalista Ricardo Noblat:
"De uma forma ou de outra, o governo Lula acabou. Assim como os séculos não começam e nem terminam no dia fixado pelo calendário, os governos também não. São fatos cruciais que marcam a inauguração e o encerramento deles. O século passado começou com a 1a. Guerra Mundial e terminou com a ruina da União Soviética. Este começou em 11 de setembro de 2001.
A crônica da morte do governo Lula começou a ser escrita quando o presidente delegou funções que seriam suas aos ministros Palocci e José Dirceu, e preferiu sair pelo mundo a desfrutar da notoriedade recém-conquistada. Deslumbrou-se com o poder. Apreciou suas miçangas. E ao se comportar assim, revelou toda sua inaptidão para o exercício do cargo.
À falta de alternativa, Palocci teve o bom senso de tocar a política econômica que herdou. A conjuntura internacional favorável contribuiu para que o país voltasse a crescer. Dirceu foi engolido por seus próprios erros, defenestrado do poder e aguarda agora o momento de ser cassado. Os ditos programas sociais foram reduzidos ao mais escrachado assistencialismo.
Nem por isso o governo parecia condenado a se esgotar antes do tempo. E nem por isso Lula estava obrigado a abdicar do sonho de um novo mandato. E assim foi até que a lama represada e escondida das nossas vistas começou a emergir. Todos os pecados do governo e do próprio Lula seriam perdoados por aqueles que o elegeram - menos um: o pecado da corrupção.
Lula fingirá até o último dos seus dias que nada teve a ver com ele - mas teve, sim. Depois de disputar e de perder três eleições presidenciais, ele só se dispôs a concorrer pela quarta vez se o partido se rendesse completamente às suas condições. Elas traziam embutida o vírus da corrupção. Para vencer, Lula fez o que condenava nos adversários - e para governar, também.
Fracassou - e, de quebra, arrastou o PT com ele. Porque a arte de governar é mais complexa do que a arte de ganhar uma eleição. Porque não se governa como se ganha uma eleição. E porque ele jamais se preparou para governar. Não estava pronto, pois, para governar".