10 agosto 2005

Código da máfia

Artigo de Fernando de Barros e Silva:
Lula e os picaretas do PT

"Não é só na boca do caixa que o PT se degrada. Sob nova direção, o partido aprovou em reunião neste fim de semana um documento camarada nas autocríticas, mas enfático quando aponta "estratégias oportunistas da direita" para "abreviar o mandato popular, legal e legítimo, do presidente Lula".Ao mesmo tempo, o PT aceitou os termos da carta em que Delúbio Soares pede afastamento por tempo indeterminado da legenda, não sem antes deixar de mencionar seu "compromisso com o povo brasileiro" e concluir com "saudações petistas". A resolução do PT e a carta de Delúbio são uma impostura e um escárnio.De um lado, o aparato petista premia o ex-tesoureiro, retirando-o de cena sem puni-lo; de outro, faz coro à tese do golpismo, reavivada dias antes pelo próprio presidente, como se ele fosse vítima, quando na verdade está sendo poupado pela benevolência cínica e pelo cálculo do establishment -e o PT sabe disso.Homem de Lula, Tarso Genro atua pela blindagem e faz o jogo do conchavo interno, mas posa de novo guardião da ética, camuflando sua real missão por meio da fala empolada de bacharel. O partido segue podre, refém da chantagem dos que sabem os segredos do "mensalão".O fato é que Lula e os picaretas do PT não têm mais o que dizer ao país. O presidente não se dá nem ao menos o trabalho de explicar o dinheiro que emprestou do partido. Se desconhece quem saldou a dívida, Delúbio deve saber. Inclusive porque o crupiê do PT -aquele que pagava e recolhia as apostas-, antes de ser da "turma do Zé", pertence, desde a sua origem no partido, à "turma do Lula".A famosa foto de novembro de 2003, com Delúbio flagrado de cócoras atrás da mesa, segurando a cigarrilha que o presidente fumava às escondidas, ilustra tanto a proximidade como o tipo de relação que entre eles se estabeleceu. Também nesta imagem premonitória ele exercia as funções do leva-e-traz -o empregado de luxo, aquele cuja ascensão pessoal e na hierarquia do esquema está ligada à fidelidade cega que dedicou ao chefão. Hoje suas "saudações petistas" soam como código da máfia."